quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Não mais as mesmas

Estava cedo para quem costuma levantar ao meio dia, estava quebrada pra quem costuma andar de salto toda tarde no trabalho, e o pior de tudo, estava gostando dela demais pra quem costuma amar o mundo todo. Era fácil de perceber que decididamente eu estava de ressaca, mas ressaca daquelas que além de doer sua cabeça aperta seu coração todinho, quer fechar seus olhos, levantar suas pernas em um sofá aconchegante e fazer você chorar pra ver se o álcool sai pelas lágrimas, pois ele não pára de circular em seu cérebro.

Eu sou daquele tipo de pessoa que gosta de escrever para além da escrita propriamente dita, o fato de pegar sentimentos, sensações e transformar em traços estranhos que podem fazer sentido para alguém além de você... Isso me encanta! Costumo no entanto só publicar o que acho que não vai ser perda de tempo ler, o que pode ser bonito para passar a vista, o que pode ser bonito para ser sentido...sim porque ao ler, as pessoas sentem muito, e quero isso mesmo. Que sintam o meu nó na garganta, que sintam o abafar do choro soluçado e se preciso for, que chorem em cima da folha. Ou que riam dos traços-palavras, pois não estão nem aí para quem esteve do outro lado há um minuto atrás, “desenhando letras”.

Eu tinha acabado de me despedir dela e não precisava mais sofrer... Não precisava mesmo porque eu sabia que tudo estava se resolvendo, que tudo ia ficar bem, mas nunca mais seria do jeito que já foi um dia, porque nem eu nem ela somos mais as mesmas pessoas da primeira festa, não somos mais as mesmas pessoas de seu aniversário, nem do dia na cama depois do show de rock e ainda bem que não somos as mesmas pessoas daquela maldita sexta a noite. Isso é fato, e por mais que ainda a ame, não somos mais as mesmas e sendo assim, nossa relação também não. Eu percebi que nunca teve uma culpada para isso tudo estar sempre dando errado, e que já que as portas para a gente sempre insistem em se fechar... Pode não ser tão válido assim ficar lutando contra isso. Pode ser que não valha a pena insistir neste amor que por algum motivo ta mostrando a todo momento que não veio a este mundo para vingar. É uma pena. Mas tudo que sinto por você vai continuar sendo muito meu.

Eu amanheci e preferiria voltar a dormir.

Água quente nos pés inchados, suco de laranja com gelo e sem açúcar.
Mornas horas que passam tão devagar e eu aqui, ouvindo alguém que insiste em dizer “ I have tried to put it from my mind. To bury all the trouble that I’ve left behind, but still I can’t explain. The word’s I just can’t find and I can’t understand it. Ain’t nothing gonna change my mind”… Ela está tão perdida quanto eu e isso me consolou um pouco.

Certo dia antes de entrar para a faculdade de medicina, ainda fazendo aqueles cursinhos chatos pra porra, decidi faltar aula para beber com uns amigos que tinha conhecido há duas semanas na exposição de fotografias de minha namorada, ela andava trabalhando num ensaio relacionados a cores, tinham fotos maravilhosas de plantas, tintas, comidas, corpos... Ficamos lá encantados e acabei que briguei com Aline por qualquer coisa sem sentido, sem necessidade, como sempre, os meninos que olhavam as fotos me levaram para casa de carro e desde então nos falamos por emails e telefonemas diários. Faltei aula uma semana antes das provas do vestibular, estava acontecendo a revisão final mas não estava muito afim, e neste dia fomos para um parque da cidade que morávamos. Bebemos muito e conversamos sobre o fim do meu namoro, eles conheciam Aline das aulas de francês e lamentaram o jeito que tudo terminou, disseram que ela andava meio cabisbaixa e que seria bom se conversássemos, mas não o fizemos.

Eu já me formei e hoje ando com ressaca diariamente, sempre chego no trabalho de óculos escuros e tardo a tirar eles, a maquiagem vem sendo minha aliada e percebi que tudo que fiz até agora neste emprego foi me chatear e ficar velha. Quero sair dele ainda hoje, mas não dá nem pra sair de casa neste estado que me encontro...

Coloquei uma musica brasileira agora, preciso de algo bom que me lembre meu país. Preciso de uma coisa boa daquele lugar que ocupe minha cabeça. Aqui também é quente, tem mulheres e bebidas á vontade, mas sinto saudades do jeitinho brasileiro, das amizades, dos amores, do Brasil mesmo... a gente só dá valor quando perde!

Hoje ela e eu não somos mais as mesmas e isso é a coisa mais difícil do mundo de se falar, ou de se escrever, mas neste instante percebi que ainda a amo e não cabe a mim, muito menos a ela tirar isso daqui de dentro, é tudo uma questão de tempo pra passar, tudo uma questão de pura lógica, se dói- sara, se veio- vai, se cresce- diminui...e caminho assim agora, crente em algo que não faço idéia se é ou não verdade, crente que essa guerra toda que ando á procura de paz já ta acabando e que nem é assim tão necessária.

Ela soube mais do que ninguém neste mundo me conquistar, me fazer viciada dela e agora ando...ando meio sem rumo, meio sem tempo, meio sem atitude a não ser jogar o celular pela janela do carro em movimento... já estive melhor nestas coisas... Mas ando, e com um sorriso no rosto porque não há mais motivos para chorar, o cd já acabou e o suco de laranja também... já me sinto melhor e vou tomar um banho. A gente não guarda mágoas e era exatamente isso que precisava... Saber que nosso término não traria consigo aquela raiva, aquela distancia sofrida, aquele abandono que odeio. Que sempre odiei e tanto já fiz, mas isso tudo já faz cinco anos e cinco anos não são cinco dias. Eu queimo por dentro, queimo como incenso de pitanga, liberando por todos os meus poros fumaça desordenada, forte e sedenta de seu sabor.

Aquele que diz que sabe onde isso vai dar está muito equivocado, aquele que diz que sabe de mim, trate de enxergar que não tem bula, não tem um venha, apenas um “suma” inconstante como minha cabeça, como meu coração que nas batidas dos últimos dias mostrou que na vida tudo não passa de uma merda de escola fútil e hipócrita que tenta ordenar até sentimentos, até sensações... que na vida que ele quer ter, a liberdade deve ser o primeiro direito e dever, que nada deve ser analisado como errado a não ser que queira partir do pressuposto que ruim é o que colocam como certo. Quero histórias inventadas, assim como todas as verdades do mundo, quero Clarisse Lispector como melhor amiga e a infinidade de possibilidades aqui, no meu ombro, do lado de meu ouvido esquerdo tomando posição de conselheira.
... Eu a amo e o café que vou passar depois do banho seria para nós duas, assim como todos os meus dias e alegrias, mas cinco anos não são cinco ou seis dias, não posso mais beber deste jeito e chegar em casa só. Ela e eu não somos mais as mesmas, mas porque o amor fica sendo?