quinta-feira, 30 de julho de 2009

Na madrugada um conto


Acorda de repente como se a tivessem chamado,foi só um anjo que sem querer bateu uma de suas asas no seu rosto,
a menina levanta, mas ainda é muito cedo e a casa está vazia, sua companhia fica sendo o silêncio. Mais tarde chega o senhor papel e a dona caneta. A menina sabia que les viriam! Suas mágoas e sonhos só serão contadas para eles, suas confusões serão declaradas por horas aos seus dois amigos.
E em forma de versos a vida da menina é contada naquela manhã onde nem os passarinhos ousariam incomodar.
É rosa, é preto, é amarelo...é colorido o seu coração pequenino, seu coração que quase explode todos os dias por não caber tantos sentimentos juntos, ele palpita forte e a pede que escreva sobre ele, suas estórias e suas batidas.
A mão da menina não se demora, é obediente ao coração, que diz tudo o que quer, ou o que acha que quer.
Menina que inventa um mundo todinho seu naquelas linhas silenciosas, linhas que agora não choram com ela nem respondem as incontáveis interrogações desenhadas antes do galo cantar.
A menina mesmo assim escreve, obedece e escreve cada palavra que o coração diz, o escuta atenciosamente... e escreve.
...A cabeça da menina pede a fala! E então diz que o Senhor Coração está equivocado, que as coisas não são bem assim! A menina calmamente a escuta e também a escreve, afinal, todos podem falar livremente.
-Pois não dona cabeça?
-Menininha...essas coisas são bonitas, mas não existem. Ouça-me e reflita um tanto, sim?
As linhas vão sendo então cobertas de reflexões, o coração e a cabeça não páram de falar e o dia nasce enfim.
Um coração confuso,
uma cabeça cheia,
uma menina com um sorriso e uma lágrima para carregar consigo,
também um bom ouvido para se alguém precisar.
E assim a escrita acaba, tudo é bem dobrado e bem guardado, lá em cima é datado para nunca se esquecer. Não se esquecer daquele dia, daquela manhã daquela agonia que a fez ir escrever.
E é claro que um dia será lido, só por ela compreendido o mistério que é viver.
Pequena menina que aprende a viver em cada letra, que cresce a cada página, que sofre a cada silêncio...quero que levante e me diga de você.
Que vida, que mundo, que amores e desamores.
Então sua boca não se mexe, o coração toma a frente, a cabeça quer falar e os olhos expressam tudo, mas a boca é incapaz.
Já não há necessidade de alguém mais saber, já foi tudo dito, redito por escrito com a maior sinceridade que alguém pode ter.
Não se sabe é que parte se fez ouvir em cada escrita, se foi o sentimento ou a tentativa de não sentir o que se sente, com o coração ou com a mente, em seu mundo irreal.

Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca.
(Clarice Lispector)

terça-feira, 28 de julho de 2009

Amigo

Era uma amizade antiga, um relacionamento que já nem cabia em imensidões de palavras e gestos. Tratava-se de um colega do colégio que conheci no recreio do primeiro dia de aula através da bendita senhora da cantina, ela era pequena e suja. Não havia troco para mim e sendo assim que estava atrás de mim na fila ficou responsável por me ajudar.
Ele já tinha cara de jogador de futebol na época, era loiro e bastante atrapalhado, mas conseguiu arranjar uma moeda de vinte e cinco centavos e dei o fora dalí depois de um obrigado cru. Mais tarde encontrei com ele na portaria, meu pai ia me buscar, mas se atrasou (como sempre) e acabei perguntando as horas a ele.
“Quinze para uma”...
Como conspiração ou acaso, ou qualquer outra coisa nada a ver, ele e eu passamos a nos encontrar todo recreio e conversávamos sobre todas as coisas do mundo, nossas professoras, os foguetes, os programas de TV, os assuntos das provas e as partes que mais gostávamos nas meninas do ensino médio. Eu tinha nove e ele doze, eu sou de sagitário e ele leão, mas nesta época não sabíamos. Ele foi várias vezes em minha casa e eu nunca fui à dele.
Era uma amizade bonita e eu sabia que mais cedo ou mais tarde ela acabaria.
Chovia de um jeito que nunca vi igual, as árvores do parque balançavam fortes e senti o barulho da água no chão escuro, pareciam dizer alto que o mundo não me queria de pé aquela hora, mas precisava, na verdade tinha que sair daquele lugar exatamente agora e não encontrava capa de chuva nem nada do tipo, estava nervoso e minha gravata apertava. Escolhi o caminho mais longo por idiotice ou pressa, a moto ainda atolou e meu relógio inventou de parar...
Levei as mãos á cabeça, mas não desisti. Na hora poderia ter rezado um pai nosso, ter ligado para alguém, ter chorado, mas forcei a moto para frente e para trás, liguei, desliguei, falei com ela... A chuva doía as costas e consegui sair. Peguei a estrada por uma hora e a moto finalmente parou. Dali para frente era eu sozinho.
Eu não fazia a barba desde a terça feira e ele não gostava disso, sempre andava impecável e reclamava de minhas bermudas e descuidos, preferia vinho seco e eu cerveja gelada, mas sempre tínhamos de tudo em nossas casas... lembro que ele conseguiu um financiamento e comemoramos no prédio novo por dois dias inteiros. Eu, ele e mais quatro garotas de programa que ele pagou sozinho. Eram três quartos e um ficou como escritório, outro como meu. Ele escrevia para um jornal famoso de Aracaju e costumava viajar muito...
Apressei meus passos pois a chuva não ia diminuir e eu já tremia de frio, além disso morro de medo de trovões, raios... Não ia tardar a vir... Cheguei no aeroporto e obviamente fui observado por todos aqueles olhares desocupados, eu pingava e corria. Também chorava, mas não vem ao caso.
Era uma amizade com sentido, nada resumido a troca de afeto ou serviços, éramos amigos e nunca mais o viria.
Corri mais, era agora ou nunca.
Um guarda me barrou pedindo explicações mas não lembro sequer de seu rosto, palavras, motivos. Foi um anjo e deixou-me continuar... Era um homem já, aliás, éramos homens feitos e não haveria muito o que fazer.
Meu sapato fazia um barulho engraçado e eu comecei a pensar que poderia não encontrar mais meu amigo... andei mais devagar e foi analisando outras formas de o encontrar, eu queria pedir somente mais uma tarde. Não é muito, é?
São Paulo, 23:50h...
-Moço... que horas, por favor? Meu relógio parou!
-Não era a prova de água não é mesmo?(risos)
-Por favor, que horas!
-Deixe-me ver... Meia noite meu jovem, meia noite e um para ser mais exato.
-Obrigado.
Não pensei muito, nem chorei mais, engoli uma pitada de ódio, de mim, da moto, da chuva, da Situação. E então insisti, olhei a sala de espera, a pista de decolagem, as lojinhas, o bar aberto e não o encontrei... Até hoje. Completei cinqüenta anos esta semana e achei uma foto que me fez escrever esta história, nela estávamos nós dois com taças posicionadas ao alto da cabeça e estampando sorrisos já tortos e facilmente adquiridos. Nela tínhamos lá pros vinte anos e ele continuava sendo de leão, sentando em cima da mesa e piscando o olho para a minha namorada que bateu a foto.
Recebi um telegrama dele hoje, está voltando... Decidi juntar os pedaços do livro que escrevemos juntos e as fotos que não joguei, comprei quatro garrafas de vinho seco e taças bonitas, paguei uma diarista para arrumar minha casa e fiz a barba. Não demorou mais de dois dias, ele bateu em minha porta, sempre fechada, e estava em cadeira de roda. Não falamos palavra alguma, ele entrou, pegou um pedaço de papel, tirou a caneta da bolsa e escreveu uma música que falava de saudades, eu li e atrás coloquei a letra de “alegria” (de Arnaldo Antunes), antes de terminar ele começou a acompanhar a letra cantando daquele jeito que ele sempre fez, calmo e forte.
A voz dele estava intensa e eu enchi os olhos de lágrimas, mas não chorei. Queria sorrir alto...não consegui falar dos vinhos, do livro nem das fotos, pedi para ver sua mão e beijei com calma, ele levantou meu rosto e me tocou o rosto...falou de minha barba mal feita e sorriu. Não procurei saber da cadeira de rodas, não comentamos o incidente de nossa briga, não demos tempo para dúvidas, tristezas... ocupamos casa segundo com sorrisos e histórias antigas, não contei de meu neto que acabara de nascer, perguntei se lembrava da aposta que fizemos, falei que ganhei mas não precisava pagar, foi aí que lembrei do vinho e bebi junto com ele, andava quebrado e não daria para comprar cervejas também.
Ele me perdoou e eu a ele, pedi um beijo e não conseguimos mais parar, ficamos juntos toda a noite e entendi que ele estava se recuperando de uma cirurgia, daqui a dois dias já poderia andar normalmente. Dormimos juntos e acordamos abraçados, mas custamos a levantar. Seu aniversário era daqui a nove dias, cinqüenta e três anos e estava totalmente em forma, os cabelos escuros ainda, a pele boa, fazia yoga e tinha forças nos braços, calma e sorrisos.
Entendi muita coisa e ele também, comecei a mostrar as fotos e textos, comemos algo e terminamos de beber o ultimo vinho, passamos o dia juntos e foi maravilhoso. Era uma amizade gostosa e costumávamos nos amar quando solteiros. Ele contou do falecimento de Lia e eu do repentino abandonar de Regina, falei de um filme que gravei e ele do livro que ia lançar, contei sobre os signos e ele sobre física quântica. Amei.
Não precisava ser um fim de tarde muito diferente, muito divino, muito extremo, esse era nosso cotidiano, ser felizes juntos, amar a existência e sorrir. Cansei de nada e fui deitar, ele entrou na internet para resolver coisas do livro e me acordou para irmos jantar, foi andando de tão teimoso que é e acabou sentindo dores na perna direita, voltamos...
Ele viajou ainda duas vezes e eu, aposentado, cuidava de cuidar da casa, de gastar dinheiro com comidas boas e vinhos que aprendi a gostar. Tive uma namorada e ele alguns casos ligeiros, era muito safado para conseguir manter um outro relacionamento estável. Veio morar na minha rua, umas duas casas para a direita, já vizinho á padaria de nosso colega da faculdade de comunicação e continuamos amigos e amantes até o dia que ele se foi sem volta...
Deixou lembranças de encher três milhões de buracos negros, deixou aquele radiozinho de pilha para mim e todo o resto para a creche pública que acolheu sua filha que só soube da existência dois dias antes do falecimento, se chamava Adriana e também escrevia. Deixou uma árvore plantada quando jovem em meu quintal e um livro. Sim, ele publicou o livro...
Me fez surpresa em um sábado á noite, fomos a biblioteca central e seria sua estréia, tinha toda imprensa e alguns fãs para pegar autógrafo. Paralisei e senti congelar toda minha coluna ao ver os banners de divulgação, as pessoas esperando e os livros ali, intitulados “Confissões a um amigo” e na capa a mesma foto que guardei para ele... do bar e das taças no alto das nossas cabeças.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

domingo, 26 de julho de 2009

http://ultimainstancia.uol.com.br/noticia/BRASIL+DENUNCIA+REINO+UNIDO+A+CONVENCAO+DE+BASILEIA+POR+TRAFICO+DE+LIXO_64936.shtml?idConteudo=BRASIL+DENUNCIA+REINO+UNIDO+A+CONVENCAO+DE+BASILEIA+POR+TRAFICO+DE+LIXO_64936.shtml

Vida

Não é nem sequer saudade
Não faz de conta que ta chorando,
Vira,
Olha pra mim!
(Mentira...)
Me fazia falta seu gosto, mas desde que amanheceu não consigo mais te querer.

Já era tarde da noite quando resolvi me perturbar forçosamente naquela casa de shows que jurei nunca entrar,
Entrei, e do mesmo jeito saí... Depressa e como olhar baixo.
Nunca pensei em me mudar daqui, deixar pra trás meus trapos e até alguns retratos que colei na parede vermelha, mas agora passa muito depressa pelo meu lado o asfalto quente da partida quase fervendo de tão escuro. Faixas amarelas se tornam contínuas e ao olhar para elas fico tonta.
Volto os olhos para as árvores, elas passam mais pausadamente e é exatamente assim que durmo.

Não é nem sequer vontade
Não fuja agora ou te aperto os braços!
Fica,
Deita pra mim!
(de costas)
Me lembrava aquela tarde, mas desde agora não cabe mais palavras...

Agora já fui,
Não suponha sequer que te amei, eu te usei como a um casaco, quente e incomodo.
Minha nova casa não terá teu cheiro, não enfrentará seu sorriso, nem eu.

Muitos homens ainda dirão que fui, ou sou uma cadela, uma errante que cai pelas ruas.
Hoje tenho pena de cada um deles, mas este balanço do ônibus impede que eu fique muito tempo pensando em apenas uma coisa... Penso em varais, jornais, penso no café da manhã que nunca te fiz.
Já te escrevi um conto, mas não te dei.

Foi assim, no ônibus, fugindo...

-Olá senhora, café?
-Sim
-Com ou sem leite?
-Sem

Estava doce.

Desci na rodoviária e ainda tive tempo de tomar algumas cervejas, estava acontecendo alguma coisa na cidade, muita gente por ali e a cerveja havia aumentado o preço! Absurdo!
Peguei um taxi e olhava a todo instante o contador, só tinha vinte reais em mãos. Desci uns 300 metros antes do prédio para não passar vexame e paguei com muita classe os 19,50.
-Fique com o troco
-Obrigada senhora
Andei com aquela mala enorme e sentei por uns minutos na praça, meus pés doíam um pouco e o salto ajudava a estender tudo para minhas costas. Tirei um pouco a bolsa preta de meu ombro e coloquei a mala o chão. Era azul marinho.
Pensei em dormir por ali mesmo, mas esta idéia se foi juntamente com o frio que aquela noite carregava. Não iria arriscar pegar um resfriado ou um susto. Sim, porque parece que agora estavam até proibindo as pessoas de dormirem naqueles banquinhos brancos...
Ora essa! Que porra estaríamos atrapalhando ou incomodando?
Bando de gente idiota e mesquinha, com certeza depois de reclamar iria para sua casa de merda dormir numa cama de merda e molas.
Subi os dois andares pelas escadas, o elevador não ia chegar tão cedo e eu estava com pressa! Achei incrível, pois o porteiro me reconheceu e nem precisou ligar avisando, queria fazer surpresa mesmo...
-Boa noite - falei entrando pela porta sempre aberta...
-Carla?
-Olá Amanda.!!!
-Sua porra! Por onde você andava?
-Não importa agora, tem alguma coisa para beber aí?- larguei a mala e a saudade na sala e fui para cozinha
-Mas você me some todos este tempo e não vai me dar nenhuma satisfação? Você ta bem?
-Ai querida, perdão...estou bem sim, só um pouco sem saco de conversar, queria ficar aqui um tempo...até eu me ajeitar sabe? Com certeza vou acabar te contando tudo, mas posso abrir esta vodka?
Ela fechou a cara e saiu da cozinha com passos fortes, deu para ouvir que agora ela assistia televisão, aqueles programas infantis idiotas. Eu bebi um pouco e lavei o rosto, na verdade bebi muito, fiquei até meio sem jeito de colocar a garrafa quase vazia na geladeira denovo e então coloquei um pouquinho de água, balancei e guardei... Não sei se depois ela percebeu muito.
Fui para sala e abri a mala devagar, olhava as paredes brancas, mas repletas de jornais, aqui e ali via uma foto em preto e branco que chamava atenção o restante na verdade nem sequer foi lido antes de colar... Coisas inúteis, mas ficou bonito.
Ela deitava agora no chão, em cima de seu seio esquerdo estava o controle da TV e percebi que ela cochilava em cima de uma mão. Parei por um instante meu olhar em seu rosto, estava branco... Um branco macio e saudável, o vermelho do batom fazia seus lábios parecerem maiores do que realmente eram, estava de camisola rosa e não fazia idéia de que eu a mirava, caso contrario fecharia a boca ou fingiria um sonho gostoso...
Fui para a cozinha, merda, agora não tinha mais nada para beber. Que merda eu fiz? Água na vodka? Comi um resto de pizza de queijo e vomitei umas duas vezes no chão... Não limpei.

-Porra Carla! Porra meu irmão! Acorda sua puta! Levanta esse caralho e vem ver o que você fez! Porra!
-Isso são modos de acordar alguém? -Gritei para ela de lá do sofá-
Acabei indo ver meus dois ou três vômitos e limpamos tudo junto com ela antes do café da manhã.
-Que você ta fazendo de bom?
-Ando fazendo uns trampos pra uma lojinha aqui perto, quadros, molduras...na verdade to trabalhando com colagem saca? – Ela fez uma pausa para tomar um gole generoso de café e seguiu com a boca cheia de pão ainda - Nada de interessante, depois te mostro uma luminária irada que não quis vender, posso te dar se você gostar!
Bebeu mais café e eu pela primeira vez sorri para ela,mas ela não viu, estava de cabeça baixa...
-Você ta muito misteriosa Carla! Desembucha vai... - Disse ela se levantando e pegando a manteiga na geladeira.
- Eu to fugindo Amanda.
-Puta merda velho, você ta tipo...tipo... Polícia atrás e tal...?
Eu ri com gosto e me levantei para ver melhor a cara de espanto dela, segurei seu queixo bem de leve e encarei um pouco, estava com vontade de beijá-la, mas dei um abraço, demorado e estranho...a olhei e...
-Posso morar com você este mês? Juro me comportar... Fui enganada lá em Recife, to fugindo um pouco de minha vida sabe?
-Você veio para cá por quê?
-...
-Fala. Por favor...
-Achei que você era a única pessoa que aceitaria esta proposta ridícula, depois de tudo que já fiz por aqui... sei lá...a única que..
-Que é uma idiota né?
-Amanda, não fale assim...
-Você me machucou demais.
-Por favor, deixe eu ficar!
-(...)
-Amanda... por favor Amanda, não chora!
-Vo...você um dia me amou?
-Pára de chorar vai...
-Responde!
-Claro que amei. Você sabe disso. Olhe para mim... Ei, olhe.
-Que é?
-Vamos esquecer isso... Deixa eu ficar e vai ficar tudo bem,eu juro!
(..)

Agora bate forte um sentimento louco, talvez reviravolta intensa que cala a musica em mim, troca isso por aquilo e me leva para um canto escuro, não é bem um quarto, é um mundo.
Foi difícil para mim começar tudo denovo mas não conseguiria fazer diferente, minha casa, roupa e vida nova teriam que ser o mais distante possível de você.
Te ensinaria por A mais B que as coisas não podem ser assim.
Te queria por três noites ainda, uma só não caberia meu desejo, minha vontade de você, te degustaria com champanhe, talvez crua, nua, de dar água na boca a qualquer rabo de saia, calça, bermuda... Te odeio e você sabe disso! Queria te estraçalhar bem devagar e com seus seios em minha boca te sugar para distante daquele quarto carregado de lembranças suas. Não minhas.
Queria que entendesse ou procurasse enfiar em sua cabeça que não me merece, que te pisaria mais cedo ou mais tarde, você é linda e não te quero mais...

-Bom dia amor,(...) você ta bem Carla?
-Bom dia Amanda... que horas são?
-Nove... Você tava com uma cara estranha...
-Tô bem... Relaxe.

Amanda e eu ainda tentamos ficar juntas, transamos todos os dias, passeamos, procuramos emprego, aprendi a fazer várias coisas com jornal e revistas, recebi café na cama várias vezes e entreguei flores amarelas, vermelhas, e azuis a ela...
Amanda e eu éramos então unha e carne, puro amor.
Terminamos algo que nunca começou quando a vi com seu amigo da Universidade (havia concluído há um ano) em nossa cama. Eles me viram e Amanda ainda tentou me explicar alguma coisa enquanto eu fazia a mala. Ele saiu sem camisa e nem olhou para trás.
Hoje te escrevo para dizer que te amo e sempre amarei
Amo sim...
Não rasgaria mais seu rosto de lágrimas falsas, pegaria outra condução e voltaria para dizer que te perdôo. que a vida é assim mesmo e que sinto saudade de seu cheiro e sua ausência de batons.
Mas me recolho a esta carta, me reprimo a estas linhas e confesso que vivi uma gota de ilusão, outra de realidade... Ainda me faltam mares e não poderia demorar mais aqui sentada. Eu também menti para você. Muito. E não consigo imaginar como você pôde ter acreditado... Tola!
Agora olhe para cá...
Olhe bem para meu corpo e lembre que ele esta ardendo de desejo por você, vou me vestir.
Não toque!
A vida ainda quer passar a mão em mim, sentir cada curva e dizer que sou toda dela, quer me ensinar por A mais B que as coisas podem acontecer de todas as maneiras, de todos os cheiros, de todas as cores e também sabores. E eu nem preciso deixar...

Com amor, Carla
856555874 me liga!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A menina do farol

Cheguei na barra por volta das sete e ainda estava escuro, bebia uma espécie de suco com alto teor alcoólico e para falar a verdade, o céu devia estar claro, mas por conta da chuva fraca e persistente minha lembrança é de uma manhã negra...
Meu corpo, tão pesado, me obrigou a sentar um pouco e inventar nas raras pessoas que passavam histórias tristes de vidas amargamente sofridas, tentando encontrar semelhanças entre tantas caras inflamadas de lamentos. Pessoas frias por baixo de guarda chuvas medíocres que lhes tiravam a única coisa boa daquele momento... A chuva.
Foi exatamente vendo, ou inventando, pessoas tristes que meu suco foi acabando e dediquei então meu olhar vago a uma menina mais triste que todas as outras meninas dali. Ela era pequena e sentava-se parecido comigo (só). Acho que de onde eu estava ela cabia na palma da minha mão, assim, fechando um olho...
Eu deliciosamente fui inventando uma história para ela, uma que doía meu peito.
Não era possível, com o olhar de hoje em dia (claro) que a menina me avistasse, que ela me percebesse...era longe e eu não merecia muita atenção com aquela roupa comum, num dia comum e bêbada. Mas a menina da chuva caminhou passos contados, leves e molhados até que me encontrou.
E ela nem era tão pequena.
-Posso sentar aqui?
-Como?
-Posso sentar com você?
-Sim, mas...
Ela nem aguardava minha resposta, pois logo se sentou, cruzou as belas pernas e por mais que eu tente, não recordo de nada interessante naquela conversa de olhares e sorrisos, mas assim que ela se levantou e ameaçou sumir pela escadaria do farol, me deu muita vontade de perguntar seu nome ou seu perfume, mas a chamei alto para simplesmente e irresponsavelmente dizer:
-TE AMO.
Ela sorriu mais uma vez e concordou (?) com um movimento rápido e único da cabeça que me lembrou Amelie Poulain, ou algo bem singelo e intenso. E por muito tempo não pensei nela... Acho que a ressaca foi suficiente para levar aquela lembrança que pareceu ter sido uma loucura da minha cabeça que rodava muito.
A menina da chuva que eu amei voltou a minha cabeça naquele dia que passei de carro pelo mesmo farol... Estava apressada, mas os sinais (que parecem adivinhar) insistiram em fechar justamente para mim num ritmo constante. Em um sinal que parei me lembrei da menina, mulher e também irresponsavelmente dei uma volta para estacionar o carro, desci.
Eu estava cinza, totalmente comprometida no trabalho e cheirava a cigarro pois o vidro do carro andava quebrado, não abria mais, e eu fumei lá dentro uns dois... fui em direção ao farol, estava desta vez um dia bonito, e inventaria histórias bem safadas para cada pessoa ali, não perderia meu tempo pensando tristezas. Aquele rapaz inclusive, deve estar fazendo sua caminhada diária, que começou há exatamente quatro dias pois sua namorada, uma loira de cair o queixo não gosta muito de seus poucos acúmulos de gordura. Ele deve voltar depois daqui para casa dela, onde passaram a noite fazendo sexos com diversas posições novas... ela deve ter ensinado para ele.
O cabelo molhado do rapaz me lembrou a hora e logo que ele passou direto por mim parei de inventar sua história, tava meio chata. Debrucei-me então lá de cima do farol para avistar a menina... Inútil. As pessoas lá de cima pareciam formigas e eu poderia então acabar com todas elas.
Desci.
Do lado de fora, dei de cara com uma menina de vestido branco que me sorriu e reconheci imediatamente pois fez o mesmo gesto único e intenso com a cabeça...
-Oi, -Falei boba e também sorridente na inutilidade de falar palavras.
-Oi
-É...vamos...sei lá, conversar um pouco? Não lembro muito do que ficamos falando da última vez que te vi.
Ela maravilhosamente abriu um novo sorriso e percebi que ela era realmente nova, rosto delicado, 18 anos no máximo.
-Tá de carro?
-Tô, respondi no automático.
-Tem um lugar lindo que a gente podia ir...
Fomos em silêncio para o carro, era só atravessar a rua.
-Você estava muito bêbada naquele dia...
-Sim, sim, uma bêbada! -Respondi ligando o carro e saindo de uma vez com uma pontada forte de orgulho por estar com aquela menina ao meu lado.
-Trabalho no museu do farol, naquele dia não abriria, mas como moro perto, vim para passear um pouco.
- Na chuva?
-Eu gosto...
-Não é nada mal, mas geralmente quando me atrevo a fazer isso ganho pelo menos uns três dias de tosse. –Sorri, já não estava tensa como antes.
Ela passou a mão no meu cabelo, que agora estava preso e arrumado.
-Vire aqui - disse ela rapidamente – e siga direto, só dobre a esquerda no semáforo e já chegamos.
Quando estacionei não destravei as portas,
-Seu nome, por favor...
- Laura.
Falei o meu para ela e descemos para o lugar bonito que podíamos ir, segundo ela. Era um bar.
-Já conhece este lugar?
-Não –respondi- mas já ta funcionando uma hora destas?
-São dez horas!
-Puta que pariu, meu trabalho – soltei.
-Estou te atrapalhando, desculpa.
-Não, não...eu que quis parar e te procurar pelo farol.
Ela ficou meio sem jeito, deu para perceber e odeio situações deste tipo... Você às vezes não sabe se está diante de uma bela amizade ou de um caso, um amor. Mas a gente entrou.
Nem precisamos de muito vinho para quebrar a nossa timidez e nos beijamos demoradamente, com cuidado e foi como se fosse nossas línguas estivessem também se conhecendo, se encantando uma pela outra e se amando. A menina porém se afastou de mim e com os olhos cheios de lágrimas me encarou por um instante, depois saiu com minha chave, que estava em cima da mesa e levou meu carro embora.
Sim, e eu não consegui fazer nada.
Nada... Na verdade demorei muito a entender aquilo. Estava sozinha, sem carro e sem explicações. Voltei ao farol e ao bar algumas vezes naquela semana, de ônibus, mas não a vi. Pudera... a esta altura certamente achava que eu havia denunciado á polícia. Tão logo seu nome não era Laura, para que me daria seu nome se o que queria era meu carro? Mais uma tarde foi passando e a título de curiosidade fui despedida do emprego. (CONTINUA...)

parte 2

Desajeitada então comecei a escrever já por volta das nove horas da noite, meus cigarros não iam acabar nunca e sinceramente, não era isso que tomava minha atenção naquele momento. O vinho também não ameaçava chegar na metade, fui procurar a melhor taça, uma que coubesse cada pedaço de pensamento solto e despedaçado, não achei e usei uma comum, assim como eu.
As letras e palavras foram então brotando naqueles rascunhos e eu usava caneta vermelha (odeio azul).
Cinco meses depois recebi uma carta. “Laura” havia mandado, dizendo o quanto lamentava o ocorrido e pedindo um reencontro, o endereço havia achado em meu porta-luvas, em uma fatura qualquer de loja. Dizia que não conseguia esquecer nosso beijo e que queria devolver o carro. Eu acreditei.
Recebi uma segunda carta três dias depois com local, data e hora, mas desta vez a carta vinha com uma foto. A tal Laura que eu amei estava sorrindo como eu lembrava e vestia um vestido de flores grandes...seu ombro esquerdo estava a mostra por descuido ou por saber que exatamente assim estaria me deixando louca de saudades...Me arrumei, vesti uma blusa daquelas com o decote bem bonito e passei um batom, arrumando meus lábios para ela.
Lembro agora com um leve sorriso no canto da boca a demora para escolher a calça que coubesse melhor. Não sei por que, mas não pensei em momento algum em não ir ao seu encontro. Tratava-se de uma linda menina, ladra e desconhecida... Encantadora demais para mim, uma mulher já aos trinta, que se contêm em viver só, longe de tudo que ultrapassasse canetas, vinhos, papéis, e um gato, claro. Gatos são sinônimos de independência e solidão (boa).
Eu não terminaria a história agora, com o nosso encontro...
-Oi, tudo bom?
-Tudo... tem visto Elisa do terceiro andar?
-Elisa se casou e foi morar onde coubessem seus sonhos
-Mas que sonhos aquela mulher ainda tinha?
-De viver talvez...
Ou
-Oi, tudo parado por aqui né? ... Cadê aquela Elisa?
-Elisa?
-É, a do 302, que foi assaltada duas vezes?
-Ah, aquela tonta que foi se encontrar com a própria assaltante?(risos) deve agora estar bêbada...ou indo ficar bêbada para esquecer (mais risos)
Tem gente que fala que muito do que vivo, só serve para escrever, na verdade minha escrita se resume a estrume, não encontro muito sentido, lógica ou beleza em nenhuma dessas palavras pejorativas, as vezes fedem. O que vivo serve para vida. O que escrevo também... Mas para a minha. Não posso nem quero escrever para ninguém...
Fui encontrar Laura ou qualquer outro nome que comportasse aquelas coxas lindas e aquele ombro nu. Fui e iria ainda umas três ou quatro vezes. Escrevi um pouco antes e não bebi sequer uma gota de álcool.
Esperei no ponto uns quinze minutos e fui para...o farol...
Estranho não passaria nem perto do que senti minutos antes da menina chegar, sim, ela chegou...estava exatamente linda e andava apressada. Ajudei caminhando também ao seu encontro e a recebi com uma parada brusca já próximo a sua boca. Ela falou muitas palavras soltas, daquelas do tipo...desculpa, saudades, mundo, pai morto, e mais desculpas... eu aceitei cada uma e não demorei a soltar umas também.
- Você está linda...seu nome é Laura?
-Sim...Laura Cardoso.
Fomos ao carro e tirei com muita pressa seu vestido vermelho, soltei seu cabelo e a toquei, beijei todo seu corpo e ela deixou. Minha calça, saiu quase que ao mesmo tempo que a blusa e ela teve todo o cuidado para colocar as peças em baixo de minha cabeça, como um travesseiro no banco de trás para então se deitar em mim e dançar em um ritmo que inventou. Me beijou os seios, e desceu com a língua até meu sexo, ficando um tempo por lá, e parecia se esbaldar como criança em sorvete.
Agarrei o seu cabelo liso e claro e mordi meu lábio de baixo, tentando suportar tanto prazer. Trouxe-a de volta para meus seios e então a senti com os dedos, era quente, muito molhada e apertada. Fiz ela se ajoelhar em volta de meu colo e assim a beijava o sexo e a entrava com dois dedos continuamente enquanto ela arranhava o teto do carro. Trocamos poucas palavras e muitos olhares, cada vez mais fundos. Ficando muito tempo ali.
-Eu sabia que você ia voltar Laura...
Deitamos um pouco, ela em cima de mim.
-Eu gostei de você desde o primeiro dia. Mas não achei que se interessasse por meninas.
-Ah... (ri um pouco) – Adooooro meninas!
Voltamos para minha casa de carro, e ela dormiu comigo por três meses. Depois sumiu ao ir comprar os pães do jantar. Foi a pé e deixou uma carta (no carro). Ela e essas cartas...
“Elisa, não voltarei... mas não levo nada seu além do dinheiro dos pães, pagarei uma passagem e depois me viro. Sou casada e menti muito para você, mas te amo e meu nome é Laura. Não me espere, por favor. Fique bem”
Acabei indo morar com uma mulher um ano depois, trabalhávamos juntas em um museu e começamos um relacionamento estável, bom e... Verdadeiro.
Laura mandou umas sete cartas ainda, mas como me mudei, peguei todas as cartas de uma só vez, em um verão que fomos a barra. Minha mulher riu um pouco da história e não assumiu estar com ciúmes. Eu ficaria...Não parei de pensar até hoje na menina.
Certa vez assistindo TV a vi...
Ela estava de roxo, ao lado de um moreno alto e musculoso em uma daquelas festas de casamento de gente importante. Seu nome era Michelle Boaventura (apareceu em baixo da TV, como uma legenda sabe?) e pelo visto era bem conhecida em São Paulo. Peguei um cigarro, o último da carteira, posicionei meu cinzeiro onde desse para o admirar.
Procurei sem olhar o isqueiro no sofá ao meu lado
Acendi o cigarro e puxei toda a fumaça que consegui
Mudei de canal e soltei tudo de uma vez só...Fui ver se roubava uma torta de chocolate da geladeira, minha mulher deveria estar dormindo uma hora destas.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

movimente-SE

Lixo
Luxo
...
pra quem vive de pó, de resto, de invisível a olhos consumistas, a realidade é bem diferente.
e ponto.
pra quem vive e nem sabe como
vive.
De frente com a desigualdade "necessária" você talvez nem sequer consiga pensar muito
mas vai sentir.
Por favor, sinta!
Não são cenas de TV.
Gente,
lixo...
na verdade na verdade não consigui calcular o tamanho, por conta de meu desespero.
(e uso reticencias aqui...)
catalogando palavras ficaria fácil escrever FOME, DOR, DOENÇAS, PESSOAS E LIXO.
mas escrevendo com esta dor em meu peito fica impossível.
não se digita sentimentos nem se posta lágrimas.
isso é uma inútel e infindável tentativa de exposição e clamor.
clamor a sair da bolha!
exposição do que tá na cara...mas fechamos os olhos.(pq?)

abramos os olhos, as mentes e os corações.!!!!

(foto da Lixeira de São Cristóvão, onde visitei duas vezes em "pesquisa" e levei mts pensamentos.)

segunda-feira, 6 de julho de 2009