quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Equilibrando, por acaso. Ou não.



-‘Oi... Não vai entrar?’, falou assim, meio baixo, quase sussurrando. Era costume ela esconder a voz tão bonita. Olhei ao redor: Ninguém (e isso era raro acontecer por ali, por aqui também). Não tinha como não aceitar o convite, que vinha tão verdadeiro e cheio de vontade, das duas partes. Entrei...

(Já era tarde, umas dez, onze horas da noite quando a encontrei pela primeira vez, usava preto, e logo depois soube que era sua cor favorita. Nos encontramos numa praia, amigos em comum, coisa e tal, parecia obra do destino mesmo. Mas sempre fico naquela dúvida, se o “acaso” existe ou se realmente já está tudo escrito. ‘Pegue aqui na minha mão, né?’, falou bem assim, como se fosse algo óbvio. Ela tentava subir na corda do slackline esticada entre dois coqueiros, mas por ser sua primeira vez, teve bastante dificuldade, e eu, estando ali ao seu lado, por acaso, ou não, segurei firme sua mão, ajudei ela a subir e tudo aquilo se equilibrou em mim. A morena e o momento.
Também por acaso, ou não, nunca mais nos encontramos pela cidade depois daquele dia. Tivemos apenas algumas conversas por telefone, falando do mundo, da vida e principalmente de nós mesmas. Incrível como era gostoso escutá-la e poder falar de mim, assim, com tanta verdade junta. Ás vezes sumíamos por acaso, ou não. Mas sempre reaparecíamos em mensagens, e-mails, telefonemas... Assim, do nada. Só pra lembrar que ainda havia lembranças. E havia ali uma saudade muito forte daquelas poucas horas que nos vimos, era uma saudade também do que nunca teve... Mas que existia em nossos pensamentos, imaginação e até sonhos.)

... Entrei...
Finalmente nos reencontramos e não fazia sentido ficar do lado de fora, chovia forte e lá dentro parecia gostoso. Eu senti vontade de correr e abraça-la na velocidade de um foguete, mas meu corpo encharcado freou e sorriu. O dela também sorriu, e aquilo então se equilibrou em mim como em corda bamba.
Na velocidade do desejo, embaçado no quarto escuro, onde revesavamos entre o quente e o frio. Na velocidade daquela saudade: Cama, mãos, TV ligada e nós duas ali, ao vivo. Fui despindo aqueles meses de distância com a boca e encontrei o encaixe perfeito nos seus seios. Fomos matando a curiosidade sem receios, conhecendo os gostos musicais pela língua e pelo beijo, que percorriam agora todos os quilômetros que nos separavam. Reconhecendo os traços, os olhares vistos nas fotos, reconhecendo inclusive o cheiro, que até então não se sabia, mas se imaginava...
E se imaginava tanta coisa, que seria preciso muito tempo para então 'se saber'. Deliciosamente experimentamos as possibilidades criadas pela imaginação, e na hora de partir ainda faltava muita coisa, inclusive tempo...
O tempo desta vez foi bem cruel, inventou de passar ligeiro e não me permitiu ficar mais. Acabou rápido, se foi... Mas foi ele também que juntou a gente né? Tem todo direito de acabar, assim, por acaso, ou não.
É dar tempo ao tempo, esperar ele cuidar das coisas e ficar assim, no mesmo desejo, agora talvez mais forte... Não sei. Mas tentar equilibrar as coisas por aqui.