quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Não mais as mesmas

Estava cedo para quem costuma levantar ao meio dia, estava quebrada pra quem costuma andar de salto toda tarde no trabalho, e o pior de tudo, estava gostando dela demais pra quem costuma amar o mundo todo. Era fácil de perceber que decididamente eu estava de ressaca, mas ressaca daquelas que além de doer sua cabeça aperta seu coração todinho, quer fechar seus olhos, levantar suas pernas em um sofá aconchegante e fazer você chorar pra ver se o álcool sai pelas lágrimas, pois ele não pára de circular em seu cérebro.

Eu sou daquele tipo de pessoa que gosta de escrever para além da escrita propriamente dita, o fato de pegar sentimentos, sensações e transformar em traços estranhos que podem fazer sentido para alguém além de você... Isso me encanta! Costumo no entanto só publicar o que acho que não vai ser perda de tempo ler, o que pode ser bonito para passar a vista, o que pode ser bonito para ser sentido...sim porque ao ler, as pessoas sentem muito, e quero isso mesmo. Que sintam o meu nó na garganta, que sintam o abafar do choro soluçado e se preciso for, que chorem em cima da folha. Ou que riam dos traços-palavras, pois não estão nem aí para quem esteve do outro lado há um minuto atrás, “desenhando letras”.

Eu tinha acabado de me despedir dela e não precisava mais sofrer... Não precisava mesmo porque eu sabia que tudo estava se resolvendo, que tudo ia ficar bem, mas nunca mais seria do jeito que já foi um dia, porque nem eu nem ela somos mais as mesmas pessoas da primeira festa, não somos mais as mesmas pessoas de seu aniversário, nem do dia na cama depois do show de rock e ainda bem que não somos as mesmas pessoas daquela maldita sexta a noite. Isso é fato, e por mais que ainda a ame, não somos mais as mesmas e sendo assim, nossa relação também não. Eu percebi que nunca teve uma culpada para isso tudo estar sempre dando errado, e que já que as portas para a gente sempre insistem em se fechar... Pode não ser tão válido assim ficar lutando contra isso. Pode ser que não valha a pena insistir neste amor que por algum motivo ta mostrando a todo momento que não veio a este mundo para vingar. É uma pena. Mas tudo que sinto por você vai continuar sendo muito meu.

Eu amanheci e preferiria voltar a dormir.

Água quente nos pés inchados, suco de laranja com gelo e sem açúcar.
Mornas horas que passam tão devagar e eu aqui, ouvindo alguém que insiste em dizer “ I have tried to put it from my mind. To bury all the trouble that I’ve left behind, but still I can’t explain. The word’s I just can’t find and I can’t understand it. Ain’t nothing gonna change my mind”… Ela está tão perdida quanto eu e isso me consolou um pouco.

Certo dia antes de entrar para a faculdade de medicina, ainda fazendo aqueles cursinhos chatos pra porra, decidi faltar aula para beber com uns amigos que tinha conhecido há duas semanas na exposição de fotografias de minha namorada, ela andava trabalhando num ensaio relacionados a cores, tinham fotos maravilhosas de plantas, tintas, comidas, corpos... Ficamos lá encantados e acabei que briguei com Aline por qualquer coisa sem sentido, sem necessidade, como sempre, os meninos que olhavam as fotos me levaram para casa de carro e desde então nos falamos por emails e telefonemas diários. Faltei aula uma semana antes das provas do vestibular, estava acontecendo a revisão final mas não estava muito afim, e neste dia fomos para um parque da cidade que morávamos. Bebemos muito e conversamos sobre o fim do meu namoro, eles conheciam Aline das aulas de francês e lamentaram o jeito que tudo terminou, disseram que ela andava meio cabisbaixa e que seria bom se conversássemos, mas não o fizemos.

Eu já me formei e hoje ando com ressaca diariamente, sempre chego no trabalho de óculos escuros e tardo a tirar eles, a maquiagem vem sendo minha aliada e percebi que tudo que fiz até agora neste emprego foi me chatear e ficar velha. Quero sair dele ainda hoje, mas não dá nem pra sair de casa neste estado que me encontro...

Coloquei uma musica brasileira agora, preciso de algo bom que me lembre meu país. Preciso de uma coisa boa daquele lugar que ocupe minha cabeça. Aqui também é quente, tem mulheres e bebidas á vontade, mas sinto saudades do jeitinho brasileiro, das amizades, dos amores, do Brasil mesmo... a gente só dá valor quando perde!

Hoje ela e eu não somos mais as mesmas e isso é a coisa mais difícil do mundo de se falar, ou de se escrever, mas neste instante percebi que ainda a amo e não cabe a mim, muito menos a ela tirar isso daqui de dentro, é tudo uma questão de tempo pra passar, tudo uma questão de pura lógica, se dói- sara, se veio- vai, se cresce- diminui...e caminho assim agora, crente em algo que não faço idéia se é ou não verdade, crente que essa guerra toda que ando á procura de paz já ta acabando e que nem é assim tão necessária.

Ela soube mais do que ninguém neste mundo me conquistar, me fazer viciada dela e agora ando...ando meio sem rumo, meio sem tempo, meio sem atitude a não ser jogar o celular pela janela do carro em movimento... já estive melhor nestas coisas... Mas ando, e com um sorriso no rosto porque não há mais motivos para chorar, o cd já acabou e o suco de laranja também... já me sinto melhor e vou tomar um banho. A gente não guarda mágoas e era exatamente isso que precisava... Saber que nosso término não traria consigo aquela raiva, aquela distancia sofrida, aquele abandono que odeio. Que sempre odiei e tanto já fiz, mas isso tudo já faz cinco anos e cinco anos não são cinco dias. Eu queimo por dentro, queimo como incenso de pitanga, liberando por todos os meus poros fumaça desordenada, forte e sedenta de seu sabor.

Aquele que diz que sabe onde isso vai dar está muito equivocado, aquele que diz que sabe de mim, trate de enxergar que não tem bula, não tem um venha, apenas um “suma” inconstante como minha cabeça, como meu coração que nas batidas dos últimos dias mostrou que na vida tudo não passa de uma merda de escola fútil e hipócrita que tenta ordenar até sentimentos, até sensações... que na vida que ele quer ter, a liberdade deve ser o primeiro direito e dever, que nada deve ser analisado como errado a não ser que queira partir do pressuposto que ruim é o que colocam como certo. Quero histórias inventadas, assim como todas as verdades do mundo, quero Clarisse Lispector como melhor amiga e a infinidade de possibilidades aqui, no meu ombro, do lado de meu ouvido esquerdo tomando posição de conselheira.
... Eu a amo e o café que vou passar depois do banho seria para nós duas, assim como todos os meus dias e alegrias, mas cinco anos não são cinco ou seis dias, não posso mais beber deste jeito e chegar em casa só. Ela e eu não somos mais as mesmas, mas porque o amor fica sendo?

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

?

Por onde passará o amor se a ponte quebrar?
Será que vai por água abaixo ou aprende a voar?

Se vai voar até o infinito
Se esquecer de continuar
Ou vai fincar o pé na margem e acenar
Para um ponto qualquer no horizonte
Ou vai descer o rio até chagar o mar
Ou se o Amor é a própria ponte
Amor, me diga
Ai, amor, me conte


Por onde passará o amor se a ponte quebrar?
Será que vai por água abaixo ou aprende a voar?

Se vai pagar pra ver a flor do abismo desabrochar
Ou vai se consumir até se consumar
Ou vai cair em si do último andar
Saí sem ter paradeiro nem hora pra chegar
Vou conhecer o mundo inteiro e se você chamar
Com meu cavalo ligeiro volto pra te buscar

Por onde passará o amor se a ponte quebrar?
Por onde passará o amor se a ponte quebrar?

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Muito menos parar

Ela Não tinha muita coisa que a fizesse ser notada assim facilmente...
Traçava os longos cabelos loiros e saia sempre no mesmo horário! 8 e quinze.
Era engraçado o fato de nunca ter namorado, por vezes virava tema de piadas, ou mentiras absurdas contadas em mesas de bares. Pois os bares com certeza eram os focos de resistência cultural e política daquela cidade, de lá saiam as mais incríveis lendas, eram feitos os maiores debates, articulações e ainda reunia todo sábado as mais gostosas mulheres da redondeza... Ela aparecia sábado sim sábado não e preferia ser chamada de ‘galega’, seu nome era estranho.
Demorei a conseguir conversar com ela, a galega costumava beber muito, sambar pouco e voltar por ultimo para casa, já eu... nunca soube começar uma conversa, (puxar assunto), muito menos dizer o quanto me agradam certas coisas femininas... Os rapazes costumavam olhar mais para Carol, a negra da rua 27, realmente tinha a bunda e as pernas mais gostosas do mundo, mas Galega com aquela calma toda me causava maior curiosidade, mais vontade de ver como seria na cama.
A encontrei 3 sábados e nunca falei nada, eu era nova por ali e ainda me sentia uma intrusa em algumas discussões. Mas por força do destino ou da minha falta de responsabilidade pude a encontrar na feira livre, onde estava passeando exatamente na mesma hora que deveria estar trabalhando. Ela vinha com um menino de uns 8, 9 anos do lado que carregava seu carrinho repleto de frutas e verduras.
Ela me viu e para minha alegria veio ao meu encontro. Ouvi sua voz!
- Oi.
-É...oi! (...) tudo bem Galega?
-Tudo sim.
(era uma voz gostosa, combinava talvez com um daqueles filmes, onde costumavam botar umas latinas bem sensuais no palco cantando e conversando com a platéia sabe?)
-Quer dizer...Não consegui ainda achar a banana! - Continuou ela agora desviando o olhar dos meus olhos o passando ao meu redor, pelas bancas mais próximas.
-Ah, eu acho que a Dona Leila deve ter. Você já foi lá?
-Leila? Não conheço...
-Eu posso te levar lá.
E fomos... eu, ela e André (era este o nome do pequeno carregador de compras), naquele percurso eu consegui descobrir muito do que queria. Ela era de Escorpião, ascendente em Sagitário, tinha 21 anos e estava solteira. Cursava arquitetura e pareceu bem interessada ao me ouvir falar dos artigos que eu escrevia para o jornal dalí. Ela foi para minha casa pela noite e conheci toda a cidade ao seu lado, em poucos dias.
Eu morava com minha sobrinha de 17 anos e meu cachorro (bob), Galega se chamava na verdade Claudiane, mas eu não achei estranho não...Verdade! Preferia o seu nome ao apelido... Enfim...seguindo ordens da mesma não a chamei pelo nome nenhuma só vez.
Ela passou a ir lá em casa e acabamos dormindo juntas certo sábado na volta do bar. Eu acordei tão feliz, mas tão feliz, que meu coração pareceu pipocar quando abri os olhos e a vi...encolhida e nua, coberta por um lençol branco e em minha frente. Passei a mão em seu rosto tirando uma mexa de cabelo e levantei para fazer xixi.
Não tenho sorte com estas coisas de relacionamentos e para variar passei pouco tempo com ela, terminamos e decidi descontar toda minha raiva e tristeza no mesmo e maldito bar que nos juntou. Pedi para começo de conversa uma dose dupla de pitu e virei de uma só vez, o que me fez tossir um pouco. Repeti isso com cada uma das garrafas que ficavam expostas, eram cerca de 10, mas não confie em nada, não lembro!
Comprei já perto de meia noite cinco latinhas de Brahma e fui para casa de taxi, Kelly, minha sobrinha estava na internet para variar e fiquei só na sala de jantar, não vomitei nada e tudo aquilo voltou-se contra mim assim que acordei. Parecia que ia morrer exatamente ali, só em minha própria sala!(é, dormi na sala!)
Galega tinha conseguido me prender de um jeito absurdo! Eu já sentia o quanto ia sentir ao me separar dela assim, depois de tantas semanas juntas.
Depois que começamos a namorar ela sambava mais lá no bar, dizia que era pra mim, eu vira volta me levantava, aceitava o convite e sambávamos juntas por horas, fazendo Pedro e Fábio quase morrerem de inveja. Eu havia dito a eles que ainda ficaria com ela, mas os dois afirmavam que Galega não se envolveria jamais com outra mulher, era muito quieta e jamais havia tido nenhum namorado, ou namorada.
Fato...ela jamais namorou e fui sua primeira experiência sexual, amorosa e de compromisso.
Terminamos porque eu pedi, eu pedi mas não queria que ela concordasse, era algo assim, sem sentido...mas ela aceitou tranquilamente e depois de morder minha orelha esquerda passando a língua dentro dela, virou –se e foi embora sem dar tchau.
Hoje passaram-se quatro anos e acabei de votar nulo para presidente, nem lembrava mais desta história, mas é que as vezes paro assim aqui no quintal de camisola e fico tentando lembrar algo para escrever...fantasiei um pouco ao dizer tudo isso mas ás vezes gosto de fazer estas coisas parecerem mais sofridas que o normal.
-Você promete ficar comigo pra sempre?
-Prometo Galega!
-Mas você promete que nunca vai me esquecer se um dia me deixar?
-Prometo também...
-E...e você promete que está gostando de mim?
Dei uma risada curta, a encarei um pouco e lembro como se fosse ontem que ela deixou cair uma lágrima em meu ombro, dizendo repetidas vezes que me amava dias antes de ir para São Paulo com nosso término. Galega estava me convencendo que vinho branco também é bom (principalmente se for seco), que os signos das pessoas não dizem muito delas e que dá para se fazer muita coisa com um potinho de Nutela.
Eu cansei de contar histórias de minhas mulheres, minha vida. De lembrar e colocar no papel coisas tão sentidas para que se transformem em passa-tempo de desocupados, curiosos ou loucos. Decididamente queria que ao invés de ler e passar para o próximo conto em questão de minutos, você se colocasse aqui comigo, vou pegar mais uma cerveja, já ta gelada...mas que você e quem quer que venha a ler mereça cada palavra!
Quer um copo?
...Galega preferia violão a pandeiro e eu nunca aprendi a tocar nenhum dos dois.

terça-feira, 13 de outubro de 2009


Mas seu nome era igual ao seu primeiro olhar, simples e ao mesmo tempo penetrante. Eu sempre preferi chamá-la pelo apelido (que eu mesma dei) mas a promessa era que se um dia a gente se casasse, eu a chamaria pelo nome que ela quisesse.
Para entendê-la fui sozinha á praia em um dia de quarta feira e desde então faço isso quinzenalmente, como uma espécie de trabalho espiritual. Endireitar-me olhos nos olhos com o mar, sentada e bem junto a ele, eu busco muitas respostas que só eu posso me dar, mas não assim na correria do dia a dia... Ando sentimentalmente abalada e o único agito que agüento é o do mar, ele se mantém belo mesmo se destruindo a cada segundo naquelas ondas, hoje muito fortes, sendo assim, o admiro.
Era uma boca despedaçada em mil PECADOS, mas todos agarrados e incrustados ali em minha frente, quase colada em mim, e eu a afastando mais no pensamento do que na minha cama desforrada. Era um olhar que não simplesmente me prendia, nem simplesmente fazia qualquer coisa, era um olhar completo, enxuto de simplicidade ou carente de definições e ele era o grande culpado por eu ainda estar ali.
Acabara de bater o sino da igrejinha que ficava duas ruas atrás de meu apartamento, se não me engano...meia noite era quando ele balançava assim ligeiro..enfim, anunciaram algum horário e eu decidi tomar um banho pois a qualquer momento Mônica chegava e finalmente havíamos casado. Nossa festa não foi como sonhávamos, mas conseguimos reunir parentes e amigos mais próximos. Não teve vestido branco, ela preferia vermelho então optamos por roupas comuns.
Ela demorou mais umas três horas e eu acabei cochilando no sofá do quartinho da TV...
- Bia? Acorda amor...
Eu a escutei, mas fingi que nada acontecia, cocei o olho e me virei de costas bocejando...
-Bia, cheguei! Levanta e vamos tomar um café! ... Bia...
Que saudades de sua voz, de sua ânsia por café, que vontade louca de agarrá-la e beijar seu pescoço,sentir seu perfume, seu cabelo cumprido...
Fiquei imóvel.
Ela ao invés de tentar mais uma vez desistiu muito fácil e foi colocar a água para ferver...acompanhei cada passo, a porta do armário abrindo, a panela caindo e em seguida sendo cheia de água...ela não sabia onde estavam os fósforos! Ia ter que me acordar! Eu os levei para o quarto, fumei mais cedo. Caprichei na cara de quem dorme profundamente e dito e certo...

-Bia...meu bem, acorde! (...) Bia! (...) Se você não acordar exatamente agora...( Foi aí que ela sentou em cima de mim abrindo as pernas e me encaixando ali em baixo como uma galinha ao aninhar-se para chocar os ovos) ...se você decididamente não acordar mesmo... eu vou ter que fazer algo em relação a isso.
Eu não resisti e soltei uma risada sem querer, fazendo com que eu perdesse todo respeito de uma pessoa adormecida. Mônica se levantou e me puxou do sofá direto para o chuveiro, onde me empurrou de roupa e tudo. As duas estavam rindo muito a esta hora e acabou que deixamos o café para depois... Ela cuidou de tirar minha roupa e eu a dela, cuidando também de não perdermos nossos olhares, que estavam ali, atentos, fortes, intensos...
Ela e eu já sabíamos que nossos mundos estavam bem distantes, bem complexos e até confusos... que nas voltas, nas idas e vindas que o mundo e a vida dão, a gente por vezes fica caminhando meio que descompassado... Mas um samba e uma existência precisam de tempos e marcações que vamos aprendendo ao sambar, quero dizer...ao caminhar. Ela e eu nos amamos e isso ninguém poderia tirar, exceto nós mesmas.
Ela e eu aprendemos a buscar nosso espaço ali, no olhar recíproco, na sinceridade de estar juntas e entender apenas isso! Este momento, este tempo, esta verdade.
Eu preparei o café e como estávamos felizes dei logo o presente que havia comprado na sexta...
-Puta merda! Você comprou!(...) Brigada Bia!
-E aí? Gostou?

Ela ainda olhava
o livro, leu a dedicatória e sorrindo balançou a cabeça positivamente,falando finalmente...

-Eu queria muito ler este livro, pensei até em comprar na viagem, mas não o achei...brigada mesmo amor.
-De nada... mas me diz...como foi lá?
-Ah... perfeito né? Eu conheci tanta gente, apresentei meu trabalho já no primeiro dia de congresso e depois fiquei de turista mesmo. Tinha uma menina lá que mora em Minas Gerais, grudei nela e nos amigos e acabamos que conhecemos muita coisa juntos. A dormida não era boa sabe? A comida pior... mas preferimos comer por lá mesmo pois não gastaríamos o dinheiro da cerveja com almoços fora.
- Você gostou mais de que lá?
-Do caminho entre uma coisa e outra... os momentos que ninguém falava nada, e eu só via a cidade correndo pela janela do carro, pela minha frente, queria imitar a cidade...correr.
Levei certo tempo até parar de tentar perceber, de tentar notar coisas tão estampadas em minha cara...comecei (tem exatamente um dia hoje) a identificar maravilhas cotidianas ao invés de estar sempre buscando algo maior, algo paradisíaco... nós não devemos nada a ninguém, apenas sinceridade e um sentimento verdadeiro uma a outra. Aprendi em tardes sem sol que a gente morre e nasce a cada dia, não tem para que ter medo de começos, finais...eles estão sempre acontecendo,por vezes em conjunto! (...) Dormimos então o depois de tomar o bendito café e acordamos juntas ainda por muitos meses. Dividimos muitas conversas, frustrações, alegrias e as noites mais boemias de minha juventude. Hoje estou fora do Brasil, para fazer mestrado e cada vez que lembro dela vem aquele cheiro, aquela profunda insistência cotidiana de seu olhar. De nosso olhar.
Eu sabia que viria, já estava tudo programado para vir depois da faculdade, sim, eu sabia que nada deveria me prender naquela cidadezinha, não podia... Mas o que quero dizer, o que mais quero e preciso dizer aqui são duas coisas. A primeira, vou carregar ela comigo aonde quer que eu vá. A segunda (mais secreta e verdadeira) é que sentimentos são andorinhas SOLTAS e existem verões e invernos loucos, não dá pra controlar

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A revoluçã dos inválidos

Não existe fortuna ou ações na bolsa
Que me valham o prazer de escutar
Os doces acordes do bandolim
E o contrabaixo do violão
Este colosso que sustenta tudo
Numa seresta que ressoa
Ao toque do pandeiro como relógio
O relógio sincopado dos boêmios

E as vibrações doces do cantar
Do velho encanador
Cantando os sonhos da boemia
O pandeiro do velho da janela
O canto dos teus velhos seresteiros

O doce som do samba canção
O choro do cavaco inclemente
Sentado em uma mesa que eu mesmo fiz
Bebendo a cachaça doce de Minas
No bar em meio a meus camaradas
O quartel general dos boêmios
Amigos de coração
Camaradas de greves e combate
Hoje a greve é greve da arte

Dali sairá a nossa revolução
Tremam de medo, poderosos!
Faremos desta cidade o Soviete de Munique
O quartel virará um teatro
O cartório um botequim
Os carros cederão lugar
Às bicicletas e aos trilhos
E as ruas do centro se tornarão um grande boulevard

Renascerão as pedras do calçamento
Do meio do asfalto rachado
A Igreja virará um belo museu
E as novas Igrejas….
Fugirão seus pastores,
E seus salões virarão verdadeiras Assembléias!

Nossa Comuna governará
Todas as manhãs seu comitê central
Recitará poesias em um palanque
E a música, será o princípio de nossa constituição

Ao invés de especialistas
Nomearemos amadores
As faculdades ensinarão coisas inúteis
Os muros serão derrubados, as cercas arrancadas
As paredes virarão murais
Títulos serão apenas nome de livros
Os homens comuns farão o incomum
Numa terra posta em comum!

Os seresteiros anônimos
Serão coroados heróis
As ruas terão nome de sambas
E vossos vereadores, estas velhas dores
Cairão no esquecimento
A estátua do velho coronel
Será um cagatório de pombos!

Pobre prefeitura
Eles não querem mais tocar para vocês
Seus burrocratas ficarão desempregados
O canal de TV irá à falência
As pessoas vão passar a noite nas ruas conversando

Os moto-boys vão aposentar suas motos
Virarão todos artistas
Farão arte nos restaurantes cheios de gente
O carnaval haverá de tomar as ruas
E o sambódromo ficará vazio

Os office-boys virarão sambistas
Os burocratas sindicais vão catar papel
Ou farão promoção pessoal
Ao cargo de palhaços
Do circo que abriremos
Onde um dia foi o palácio do governo
Com realejos tocando
E peças do Plínio Marcos encenando

As escolas não serão mais presídios
Suas grades serão arrancadas
A grade curricular será abolida

A nossa comuna há de reinar
Haverá esquetes de teatro
Sob cada uma de suas câmeras
E a câmara, aquele velho túmulo
Para ela será transferido o cemitério
E seus ilustres mandatários
Contemplados com cargos de coveiros

Tuas fábricas serão automatizadas
Teus gestores não gerirão mais nada
Limparemos o rio para nele pescar!
Teremos bailes e serestas todos os dias
Precisaremos inventar ocupações
Tempo que não será mais gasto
Mas ganho, de graça
Tempo para viver e amar

Os orgasmos simples serão abolidos
Pois serão desnecessários
Estraga-prazeres
A vida será o gozo contínuo

Teus Partidos serão partidos em mil partes
Não queremos mais a parte, queremos o todo
A vida será gratuita
Tuas catracas serão peça de museu
Teus vales irão para o picador de papel
Teus números serão deletados
De tua riqueza, ficará a miséria
E a miséria que a alimentava, virará fartura!
Nossa moeda serão as canções
Entre numa loja e pague com um poema

Os relógios terão trinta horas
As noites serão mais longas
Para boemia, poder amar e sonhar
As semanas terão cinco dias inúteis
E apenas dois dias úteis

Teu capital será um capítulo passado
Teus capitães serão bustos enferrujados
Teu Estado, sofrerá uma mudança de estado
Do sólido para o gasoso
Mercadoria sem valor
Dinheiro que não vale nada
A festa dos desvalidos
O teatro dos Inválidos

Nossa comuna haverá de reinar
A poesia que há de se efetivar
A arte que há de se extinguir
Pois a vida irá se estetizar
A filosofia irá se realizar
A revolução que haverá de sair
Das paredes deste humilde bar
Das paredes deste sublime bar
(OTTO JOÃO LEITE)

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Escrevo por não ter nada que fazer no mundo: sobrei e não há lugar oara mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado estou CANSADO, não suporto mais a rotina de Me Ser, e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias.

Me PreparanDo EsToU PaRa SaIR DiScrEtAmEnTE PelAs pORtAs dos Fundos.
EXPERIMENTEI
QUASE
TUDO
,

Inclusive a paixão e o seu desespero.
E agpra só queria ter o que eu tivesse sido
e não fui.
(C.L)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

.


É assim, bem assim que as coisas me surpreendem...vindo de mansinho,tão eficiente quanto uma cobra,mas assim...de mansinho.
Fazem sete anos que a vi, e como se fosse ontem, lembro do tom de pele, da umidade dos lábios rosas. Ela tinha tudo para ser uma atriz fabulosa, tinha presença de palco e um olhar de canto de olho que colocava medo em qualquer marmanjo atrevido.
Não menti sequer uma vez para ela nas noites em que me perguntava se aquele vestido estava bom, se lhe caia bem o blush, se o decote estava bonito... A mulher que conheci em plenos 18 anos cheirava naturalmente a flores e sorria naturalmente como criança.
Voltei a olhar suas poucas fotos depois de sua partida, pensei em rasgá-las bem miúdas... mas, no outro dia me arrependeria muito. Rasguei então pela metade apenas pois poderia colar caso viesse a tristeza. Rasguei porque me faria um bem danado.
Eu gostava muito de dormir ouvindo Belchior, principalmente seu álbum de 99, que me inspirava os sonhos. Sim, me inspirava os sonhos! E assim, foi bem simples o modo como ela me veio pela calada da noite trazendo uma mensagem bonita, que eu seria feliz. F-E-L-I-Z!!!!
Eu sempre achei que voltaria a ser mesmo, mas ela me dizendo assim, bem dito e com todo seu olhar perfurante, eu passei a acreditar! Ela não estava em meu sonho com o seu perfume, estava sem cheiro, longe, mas ao mesmo tempo senti seu calor em meu lado direito, como quando ela deitava a cabeça em meu ombro para chorar uma coisa qualquer que acabara de inventar. Senti seu calor gostoso e então ela fez a promessa de minha felicidade e se foi, carregada pelo vento.
Despertei triste pois antes de abrir os olhos já sabia que não era verdade sua presença ali no quarto. Fiquei com os olhos cerrados esperando que voltasse a dormir para vê-la denovo... Só mais um pouquinho. Levantei e fui lavar o rosto babado, comi uma banana e seis meses depois voltei para casa, cansada de tanto procurar, pés inchados, boca seca e meus cabelos enrolaram de vez.
Sequer me deu uma pista, um mapa, um trajeto... Procurei minha felicidade colocando nela outra cara que não a sua, debrucei-me no mundo sem entender o que estava fazendo e já que estava de volta, fui preparar uma água quente para descansar...ali, bem no armário das panelas eu vi um pacotinho já aberto chamado felicidade...idiotice a minha ter ido tão longe atrás dele. Fiz água quente para os pés, um cafezinho forte e umas torradas com manteiga e orégano. Vi você em tudo isso e também no meu espelho, quando fui me trocar para dormir. Vi e vejo em cada coisa que faço, um gesto, uma rima, um retrato.
E as coisas vêm vindo assim, bonitas, quando a gente deixa elas virem. Eu ando ouvindo muito Elis Regina pra acompanhar o nível, eu ando sorrindo muito para dar sorte, correndo pouco, pensando o suficiente, cantando e dançando para me manter viva, escrevendo para voltar a criar.
Eu ando!
E assim, berrando nos escândalos de noites venho regurgitando o que não serve, me transformando como borboleta.
E assim, carregando você comigo, aceitei que você nunca foi embora, que aquela morte de avião só te trouxe para mais perto, e quero isso!
Desfocada hoje ou mais tarde essa vida há de ser a mesma que sempre tive e soube carregar e ser carregada. A inventarei e deixarei ser reinventada por puro prazer de ir e vir, de aprender e sorrir.
Eu ando sentindo uma coisa que não cabe aqui, já procurei em CDs, já li um monte de poemas, eu ando sentindo...




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quarta-feira, 19 de agosto de 2009


eram tres amigas,ju, beta e lis, e sempre preferiam aquele bar nas horas de conversar coisas serias.
eram trës coisas completamente diferentes e se complementavam sempre...
trës vidinhas traçadas a crescerem juntas e aprenderem assim.
SALVE A CERVEJA...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

" Por que repetir erros antigos se há tantos erros novos a escolher?"

" O homem que aprendeu a não ter medo percebe como a fadiga da vida cotidiana diminui enormemente"

(Bertrand Russel)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Nua


Nudez de sentido, sentimento,
nudez de expressão facial e corporal, imóvel.

Nudez calada e surda que insiste em recrutar zilhões de opiniões diferentes em campos de concentração, em campos de solidão, alí.

Não te interessa agora a opinião do pai, do filho, do cachorro que caiu do caminhão da mudança, para a menina do vestido azul cabe a parte mais dolorosa do sentir-se fraca.

Nem se compara aos detalhes em banho maria que veio trazer ontem, a nudez da menina aos seus 26 anos transborda um prufundo poço artesanal, mas bem profundo mesmo!

Aflita, sentida, marcada a navalha, ela, acompanhada da ausência de calma e força deitava-se em uma cama branca, olhava bem forte para o teto e absolutamente parecia morta.

Seus olhos borrados do lápis preto que escrorreu com as lágrimas de mais cedo, seus seios ainda cheios de leite e sua boca cerrada, isso tinha muito tempo.

Nudez não se traduz, se ve, se sente também.

Não era apenas uma menina, ou uma mulher era um fato consumado, uma idealização do tédio, da apatia, uma miragem ao desconforto de viver. Se tratava de uma merda, uma estúpida e inútil vida jogada fora, e parecia respirar, mas já era imcompatível com a vida.

Cabe uma dose forte, berrando, direto na veia.

Cabe um volume máximo, um cheiro forte, um balde de água gelada, o que mais?

Não seria nem mistério, as pessoas insistem em tentar achar porquês!
(inútil também)

Cabelo vermelho e peitos cheios de leite, lençol branco e agora cheio de sangue, de tristeza, de mentiras e verdades, de fraquezas e falta de compreensão, de falta de compromisso...

Ela tinha os olhos parecidos com os seus e cheirava a cigarro, ela dizia que um dia queria comer escargot, ir a Roma, Cuba e Japão, gostava de dançar aos domingos e usava um brinco de brilhantes vermelhos.

Seu filho se chama Beirartt, que significa filho da eternidade.

sábado, 1 de agosto de 2009

...ai ai

Minha insanidade parece por vezes desabrochar como uma rosa, outras, cair feito um tijolo de concreto de um prédio de 23 andares.
Meu corpo tem gostado de descansar estes últimos dias, minha cabeça tratou de se ocupar demasiadamente e meu coração andou batendo mais devagar, mais ritmado na verdade.
Não precisaria de muito para isso tudo mudar, ou desaparecer, nem sei. Você não só mexe comigo, você me revira a alma, suspende meu vestido de certezas e decisões e joga no canto do quarto.
Para falar bem sério mesmo me apaixonei por cada pedacinho de seu corpo, cada jeito, mania, movimento...Não vou contar (nem me atrevo) as vezes que te carreguei por horas em idéias e sonhos, nas vezes que senti seu cheiro, nas vezes que pensei no que poderia ter sido. Lógico que pensei !
Você não sabe mas as vezes eu sou bem esperta. Não tem nome, mas eu costumo chamar de “mecanismo automático de auto-ajuda” não que nem os livros ou essas merdas, mas como algo que vem se desenvolvendo, e que realmente ajuda.
Decidi tentar decidir alguma coisa, tentar p6or os pés no chão, me olhar no espelho e falar comigo.
Tá muito certo que não tem nada certo.
As incertezas tendem a piorar.
Não quero prever o futuro, ele nunca esteve tão escuro assim, vou deixar ele vir sozinho, mas é que andei mal com isso...
Venho andando a me obrigar a ocupar meus segundos livres, a não ter descuidos, a não esperar demais a hora de te ver. Vai ser tudo normal. Não importa o que aconteça, quero e preciso muito te ver. Acho que passando a mão em seu rosto e sentindo se perfume me acalmo.
Tá vendo? Mais uma mentira...
Te ver vai fazer meu coração perder todo o ritmo, fica parecendo uma engrenagem gigantes descontrolada dentro de mim.
Só passar a mão em seu rosto? Quero te abraçar e levar longe comigo, te beijar e olhar em seus olhos tão fundo, tão forte que você vai sentir um pouco das borboletas miúdas de meu estômago.
Gosto...gosto muito e não posso fazer nada com isso, só posso te dar em conta gotas águas de um rio agitado. Tento secar com baldes, desvios artificiais, Jogando areia, inventando outros rios e fingindo que ta fazendo efeito...
Ainda pensei que iria me pedir um copo d água, uma bacia.
Vou mandar trazer uns caminhões de entulho e jogar em cima, queria te ver já com ele quieto, mas tô com saudades.
Tentei,
Vai ver a gente tenha que aprender muito com tudo isso, eu e você, de maneiras diferentes quem sabe! Vai ver um dia a gente olhe com saudades, raiva, risos, amor, esquecimento, mágoa, felicidade... vai ver a gente esteja fantasiando algo que nem sei mais do que se trata!
Meu mecanismo anda apitando, pedindo que eu cuide de mim e não sei mais como fazer isso...te ver, não te ver, conversar, entender...
Não sei.
Você parece para mim uma coisa tão nova, tão estranha e encantadora que ando assustada, vou dormis, andar na praça, fazer uma sala de frutas quem sabe, mas não quero te contar mais nada, não espere que eu haja normal, ou como antes, não dá e você já sabia disso. Ando me respeitando e buscando lugares quentes, completos... te amo e não tem o que fazer com isso, não adianta insistir. É...sei lá

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Na madrugada um conto


Acorda de repente como se a tivessem chamado,foi só um anjo que sem querer bateu uma de suas asas no seu rosto,
a menina levanta, mas ainda é muito cedo e a casa está vazia, sua companhia fica sendo o silêncio. Mais tarde chega o senhor papel e a dona caneta. A menina sabia que les viriam! Suas mágoas e sonhos só serão contadas para eles, suas confusões serão declaradas por horas aos seus dois amigos.
E em forma de versos a vida da menina é contada naquela manhã onde nem os passarinhos ousariam incomodar.
É rosa, é preto, é amarelo...é colorido o seu coração pequenino, seu coração que quase explode todos os dias por não caber tantos sentimentos juntos, ele palpita forte e a pede que escreva sobre ele, suas estórias e suas batidas.
A mão da menina não se demora, é obediente ao coração, que diz tudo o que quer, ou o que acha que quer.
Menina que inventa um mundo todinho seu naquelas linhas silenciosas, linhas que agora não choram com ela nem respondem as incontáveis interrogações desenhadas antes do galo cantar.
A menina mesmo assim escreve, obedece e escreve cada palavra que o coração diz, o escuta atenciosamente... e escreve.
...A cabeça da menina pede a fala! E então diz que o Senhor Coração está equivocado, que as coisas não são bem assim! A menina calmamente a escuta e também a escreve, afinal, todos podem falar livremente.
-Pois não dona cabeça?
-Menininha...essas coisas são bonitas, mas não existem. Ouça-me e reflita um tanto, sim?
As linhas vão sendo então cobertas de reflexões, o coração e a cabeça não páram de falar e o dia nasce enfim.
Um coração confuso,
uma cabeça cheia,
uma menina com um sorriso e uma lágrima para carregar consigo,
também um bom ouvido para se alguém precisar.
E assim a escrita acaba, tudo é bem dobrado e bem guardado, lá em cima é datado para nunca se esquecer. Não se esquecer daquele dia, daquela manhã daquela agonia que a fez ir escrever.
E é claro que um dia será lido, só por ela compreendido o mistério que é viver.
Pequena menina que aprende a viver em cada letra, que cresce a cada página, que sofre a cada silêncio...quero que levante e me diga de você.
Que vida, que mundo, que amores e desamores.
Então sua boca não se mexe, o coração toma a frente, a cabeça quer falar e os olhos expressam tudo, mas a boca é incapaz.
Já não há necessidade de alguém mais saber, já foi tudo dito, redito por escrito com a maior sinceridade que alguém pode ter.
Não se sabe é que parte se fez ouvir em cada escrita, se foi o sentimento ou a tentativa de não sentir o que se sente, com o coração ou com a mente, em seu mundo irreal.

Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca.
(Clarice Lispector)

terça-feira, 28 de julho de 2009

Amigo

Era uma amizade antiga, um relacionamento que já nem cabia em imensidões de palavras e gestos. Tratava-se de um colega do colégio que conheci no recreio do primeiro dia de aula através da bendita senhora da cantina, ela era pequena e suja. Não havia troco para mim e sendo assim que estava atrás de mim na fila ficou responsável por me ajudar.
Ele já tinha cara de jogador de futebol na época, era loiro e bastante atrapalhado, mas conseguiu arranjar uma moeda de vinte e cinco centavos e dei o fora dalí depois de um obrigado cru. Mais tarde encontrei com ele na portaria, meu pai ia me buscar, mas se atrasou (como sempre) e acabei perguntando as horas a ele.
“Quinze para uma”...
Como conspiração ou acaso, ou qualquer outra coisa nada a ver, ele e eu passamos a nos encontrar todo recreio e conversávamos sobre todas as coisas do mundo, nossas professoras, os foguetes, os programas de TV, os assuntos das provas e as partes que mais gostávamos nas meninas do ensino médio. Eu tinha nove e ele doze, eu sou de sagitário e ele leão, mas nesta época não sabíamos. Ele foi várias vezes em minha casa e eu nunca fui à dele.
Era uma amizade bonita e eu sabia que mais cedo ou mais tarde ela acabaria.
Chovia de um jeito que nunca vi igual, as árvores do parque balançavam fortes e senti o barulho da água no chão escuro, pareciam dizer alto que o mundo não me queria de pé aquela hora, mas precisava, na verdade tinha que sair daquele lugar exatamente agora e não encontrava capa de chuva nem nada do tipo, estava nervoso e minha gravata apertava. Escolhi o caminho mais longo por idiotice ou pressa, a moto ainda atolou e meu relógio inventou de parar...
Levei as mãos á cabeça, mas não desisti. Na hora poderia ter rezado um pai nosso, ter ligado para alguém, ter chorado, mas forcei a moto para frente e para trás, liguei, desliguei, falei com ela... A chuva doía as costas e consegui sair. Peguei a estrada por uma hora e a moto finalmente parou. Dali para frente era eu sozinho.
Eu não fazia a barba desde a terça feira e ele não gostava disso, sempre andava impecável e reclamava de minhas bermudas e descuidos, preferia vinho seco e eu cerveja gelada, mas sempre tínhamos de tudo em nossas casas... lembro que ele conseguiu um financiamento e comemoramos no prédio novo por dois dias inteiros. Eu, ele e mais quatro garotas de programa que ele pagou sozinho. Eram três quartos e um ficou como escritório, outro como meu. Ele escrevia para um jornal famoso de Aracaju e costumava viajar muito...
Apressei meus passos pois a chuva não ia diminuir e eu já tremia de frio, além disso morro de medo de trovões, raios... Não ia tardar a vir... Cheguei no aeroporto e obviamente fui observado por todos aqueles olhares desocupados, eu pingava e corria. Também chorava, mas não vem ao caso.
Era uma amizade com sentido, nada resumido a troca de afeto ou serviços, éramos amigos e nunca mais o viria.
Corri mais, era agora ou nunca.
Um guarda me barrou pedindo explicações mas não lembro sequer de seu rosto, palavras, motivos. Foi um anjo e deixou-me continuar... Era um homem já, aliás, éramos homens feitos e não haveria muito o que fazer.
Meu sapato fazia um barulho engraçado e eu comecei a pensar que poderia não encontrar mais meu amigo... andei mais devagar e foi analisando outras formas de o encontrar, eu queria pedir somente mais uma tarde. Não é muito, é?
São Paulo, 23:50h...
-Moço... que horas, por favor? Meu relógio parou!
-Não era a prova de água não é mesmo?(risos)
-Por favor, que horas!
-Deixe-me ver... Meia noite meu jovem, meia noite e um para ser mais exato.
-Obrigado.
Não pensei muito, nem chorei mais, engoli uma pitada de ódio, de mim, da moto, da chuva, da Situação. E então insisti, olhei a sala de espera, a pista de decolagem, as lojinhas, o bar aberto e não o encontrei... Até hoje. Completei cinqüenta anos esta semana e achei uma foto que me fez escrever esta história, nela estávamos nós dois com taças posicionadas ao alto da cabeça e estampando sorrisos já tortos e facilmente adquiridos. Nela tínhamos lá pros vinte anos e ele continuava sendo de leão, sentando em cima da mesa e piscando o olho para a minha namorada que bateu a foto.
Recebi um telegrama dele hoje, está voltando... Decidi juntar os pedaços do livro que escrevemos juntos e as fotos que não joguei, comprei quatro garrafas de vinho seco e taças bonitas, paguei uma diarista para arrumar minha casa e fiz a barba. Não demorou mais de dois dias, ele bateu em minha porta, sempre fechada, e estava em cadeira de roda. Não falamos palavra alguma, ele entrou, pegou um pedaço de papel, tirou a caneta da bolsa e escreveu uma música que falava de saudades, eu li e atrás coloquei a letra de “alegria” (de Arnaldo Antunes), antes de terminar ele começou a acompanhar a letra cantando daquele jeito que ele sempre fez, calmo e forte.
A voz dele estava intensa e eu enchi os olhos de lágrimas, mas não chorei. Queria sorrir alto...não consegui falar dos vinhos, do livro nem das fotos, pedi para ver sua mão e beijei com calma, ele levantou meu rosto e me tocou o rosto...falou de minha barba mal feita e sorriu. Não procurei saber da cadeira de rodas, não comentamos o incidente de nossa briga, não demos tempo para dúvidas, tristezas... ocupamos casa segundo com sorrisos e histórias antigas, não contei de meu neto que acabara de nascer, perguntei se lembrava da aposta que fizemos, falei que ganhei mas não precisava pagar, foi aí que lembrei do vinho e bebi junto com ele, andava quebrado e não daria para comprar cervejas também.
Ele me perdoou e eu a ele, pedi um beijo e não conseguimos mais parar, ficamos juntos toda a noite e entendi que ele estava se recuperando de uma cirurgia, daqui a dois dias já poderia andar normalmente. Dormimos juntos e acordamos abraçados, mas custamos a levantar. Seu aniversário era daqui a nove dias, cinqüenta e três anos e estava totalmente em forma, os cabelos escuros ainda, a pele boa, fazia yoga e tinha forças nos braços, calma e sorrisos.
Entendi muita coisa e ele também, comecei a mostrar as fotos e textos, comemos algo e terminamos de beber o ultimo vinho, passamos o dia juntos e foi maravilhoso. Era uma amizade gostosa e costumávamos nos amar quando solteiros. Ele contou do falecimento de Lia e eu do repentino abandonar de Regina, falei de um filme que gravei e ele do livro que ia lançar, contei sobre os signos e ele sobre física quântica. Amei.
Não precisava ser um fim de tarde muito diferente, muito divino, muito extremo, esse era nosso cotidiano, ser felizes juntos, amar a existência e sorrir. Cansei de nada e fui deitar, ele entrou na internet para resolver coisas do livro e me acordou para irmos jantar, foi andando de tão teimoso que é e acabou sentindo dores na perna direita, voltamos...
Ele viajou ainda duas vezes e eu, aposentado, cuidava de cuidar da casa, de gastar dinheiro com comidas boas e vinhos que aprendi a gostar. Tive uma namorada e ele alguns casos ligeiros, era muito safado para conseguir manter um outro relacionamento estável. Veio morar na minha rua, umas duas casas para a direita, já vizinho á padaria de nosso colega da faculdade de comunicação e continuamos amigos e amantes até o dia que ele se foi sem volta...
Deixou lembranças de encher três milhões de buracos negros, deixou aquele radiozinho de pilha para mim e todo o resto para a creche pública que acolheu sua filha que só soube da existência dois dias antes do falecimento, se chamava Adriana e também escrevia. Deixou uma árvore plantada quando jovem em meu quintal e um livro. Sim, ele publicou o livro...
Me fez surpresa em um sábado á noite, fomos a biblioteca central e seria sua estréia, tinha toda imprensa e alguns fãs para pegar autógrafo. Paralisei e senti congelar toda minha coluna ao ver os banners de divulgação, as pessoas esperando e os livros ali, intitulados “Confissões a um amigo” e na capa a mesma foto que guardei para ele... do bar e das taças no alto das nossas cabeças.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

domingo, 26 de julho de 2009

http://ultimainstancia.uol.com.br/noticia/BRASIL+DENUNCIA+REINO+UNIDO+A+CONVENCAO+DE+BASILEIA+POR+TRAFICO+DE+LIXO_64936.shtml?idConteudo=BRASIL+DENUNCIA+REINO+UNIDO+A+CONVENCAO+DE+BASILEIA+POR+TRAFICO+DE+LIXO_64936.shtml

Vida

Não é nem sequer saudade
Não faz de conta que ta chorando,
Vira,
Olha pra mim!
(Mentira...)
Me fazia falta seu gosto, mas desde que amanheceu não consigo mais te querer.

Já era tarde da noite quando resolvi me perturbar forçosamente naquela casa de shows que jurei nunca entrar,
Entrei, e do mesmo jeito saí... Depressa e como olhar baixo.
Nunca pensei em me mudar daqui, deixar pra trás meus trapos e até alguns retratos que colei na parede vermelha, mas agora passa muito depressa pelo meu lado o asfalto quente da partida quase fervendo de tão escuro. Faixas amarelas se tornam contínuas e ao olhar para elas fico tonta.
Volto os olhos para as árvores, elas passam mais pausadamente e é exatamente assim que durmo.

Não é nem sequer vontade
Não fuja agora ou te aperto os braços!
Fica,
Deita pra mim!
(de costas)
Me lembrava aquela tarde, mas desde agora não cabe mais palavras...

Agora já fui,
Não suponha sequer que te amei, eu te usei como a um casaco, quente e incomodo.
Minha nova casa não terá teu cheiro, não enfrentará seu sorriso, nem eu.

Muitos homens ainda dirão que fui, ou sou uma cadela, uma errante que cai pelas ruas.
Hoje tenho pena de cada um deles, mas este balanço do ônibus impede que eu fique muito tempo pensando em apenas uma coisa... Penso em varais, jornais, penso no café da manhã que nunca te fiz.
Já te escrevi um conto, mas não te dei.

Foi assim, no ônibus, fugindo...

-Olá senhora, café?
-Sim
-Com ou sem leite?
-Sem

Estava doce.

Desci na rodoviária e ainda tive tempo de tomar algumas cervejas, estava acontecendo alguma coisa na cidade, muita gente por ali e a cerveja havia aumentado o preço! Absurdo!
Peguei um taxi e olhava a todo instante o contador, só tinha vinte reais em mãos. Desci uns 300 metros antes do prédio para não passar vexame e paguei com muita classe os 19,50.
-Fique com o troco
-Obrigada senhora
Andei com aquela mala enorme e sentei por uns minutos na praça, meus pés doíam um pouco e o salto ajudava a estender tudo para minhas costas. Tirei um pouco a bolsa preta de meu ombro e coloquei a mala o chão. Era azul marinho.
Pensei em dormir por ali mesmo, mas esta idéia se foi juntamente com o frio que aquela noite carregava. Não iria arriscar pegar um resfriado ou um susto. Sim, porque parece que agora estavam até proibindo as pessoas de dormirem naqueles banquinhos brancos...
Ora essa! Que porra estaríamos atrapalhando ou incomodando?
Bando de gente idiota e mesquinha, com certeza depois de reclamar iria para sua casa de merda dormir numa cama de merda e molas.
Subi os dois andares pelas escadas, o elevador não ia chegar tão cedo e eu estava com pressa! Achei incrível, pois o porteiro me reconheceu e nem precisou ligar avisando, queria fazer surpresa mesmo...
-Boa noite - falei entrando pela porta sempre aberta...
-Carla?
-Olá Amanda.!!!
-Sua porra! Por onde você andava?
-Não importa agora, tem alguma coisa para beber aí?- larguei a mala e a saudade na sala e fui para cozinha
-Mas você me some todos este tempo e não vai me dar nenhuma satisfação? Você ta bem?
-Ai querida, perdão...estou bem sim, só um pouco sem saco de conversar, queria ficar aqui um tempo...até eu me ajeitar sabe? Com certeza vou acabar te contando tudo, mas posso abrir esta vodka?
Ela fechou a cara e saiu da cozinha com passos fortes, deu para ouvir que agora ela assistia televisão, aqueles programas infantis idiotas. Eu bebi um pouco e lavei o rosto, na verdade bebi muito, fiquei até meio sem jeito de colocar a garrafa quase vazia na geladeira denovo e então coloquei um pouquinho de água, balancei e guardei... Não sei se depois ela percebeu muito.
Fui para sala e abri a mala devagar, olhava as paredes brancas, mas repletas de jornais, aqui e ali via uma foto em preto e branco que chamava atenção o restante na verdade nem sequer foi lido antes de colar... Coisas inúteis, mas ficou bonito.
Ela deitava agora no chão, em cima de seu seio esquerdo estava o controle da TV e percebi que ela cochilava em cima de uma mão. Parei por um instante meu olhar em seu rosto, estava branco... Um branco macio e saudável, o vermelho do batom fazia seus lábios parecerem maiores do que realmente eram, estava de camisola rosa e não fazia idéia de que eu a mirava, caso contrario fecharia a boca ou fingiria um sonho gostoso...
Fui para a cozinha, merda, agora não tinha mais nada para beber. Que merda eu fiz? Água na vodka? Comi um resto de pizza de queijo e vomitei umas duas vezes no chão... Não limpei.

-Porra Carla! Porra meu irmão! Acorda sua puta! Levanta esse caralho e vem ver o que você fez! Porra!
-Isso são modos de acordar alguém? -Gritei para ela de lá do sofá-
Acabei indo ver meus dois ou três vômitos e limpamos tudo junto com ela antes do café da manhã.
-Que você ta fazendo de bom?
-Ando fazendo uns trampos pra uma lojinha aqui perto, quadros, molduras...na verdade to trabalhando com colagem saca? – Ela fez uma pausa para tomar um gole generoso de café e seguiu com a boca cheia de pão ainda - Nada de interessante, depois te mostro uma luminária irada que não quis vender, posso te dar se você gostar!
Bebeu mais café e eu pela primeira vez sorri para ela,mas ela não viu, estava de cabeça baixa...
-Você ta muito misteriosa Carla! Desembucha vai... - Disse ela se levantando e pegando a manteiga na geladeira.
- Eu to fugindo Amanda.
-Puta merda velho, você ta tipo...tipo... Polícia atrás e tal...?
Eu ri com gosto e me levantei para ver melhor a cara de espanto dela, segurei seu queixo bem de leve e encarei um pouco, estava com vontade de beijá-la, mas dei um abraço, demorado e estranho...a olhei e...
-Posso morar com você este mês? Juro me comportar... Fui enganada lá em Recife, to fugindo um pouco de minha vida sabe?
-Você veio para cá por quê?
-...
-Fala. Por favor...
-Achei que você era a única pessoa que aceitaria esta proposta ridícula, depois de tudo que já fiz por aqui... sei lá...a única que..
-Que é uma idiota né?
-Amanda, não fale assim...
-Você me machucou demais.
-Por favor, deixe eu ficar!
-(...)
-Amanda... por favor Amanda, não chora!
-Vo...você um dia me amou?
-Pára de chorar vai...
-Responde!
-Claro que amei. Você sabe disso. Olhe para mim... Ei, olhe.
-Que é?
-Vamos esquecer isso... Deixa eu ficar e vai ficar tudo bem,eu juro!
(..)

Agora bate forte um sentimento louco, talvez reviravolta intensa que cala a musica em mim, troca isso por aquilo e me leva para um canto escuro, não é bem um quarto, é um mundo.
Foi difícil para mim começar tudo denovo mas não conseguiria fazer diferente, minha casa, roupa e vida nova teriam que ser o mais distante possível de você.
Te ensinaria por A mais B que as coisas não podem ser assim.
Te queria por três noites ainda, uma só não caberia meu desejo, minha vontade de você, te degustaria com champanhe, talvez crua, nua, de dar água na boca a qualquer rabo de saia, calça, bermuda... Te odeio e você sabe disso! Queria te estraçalhar bem devagar e com seus seios em minha boca te sugar para distante daquele quarto carregado de lembranças suas. Não minhas.
Queria que entendesse ou procurasse enfiar em sua cabeça que não me merece, que te pisaria mais cedo ou mais tarde, você é linda e não te quero mais...

-Bom dia amor,(...) você ta bem Carla?
-Bom dia Amanda... que horas são?
-Nove... Você tava com uma cara estranha...
-Tô bem... Relaxe.

Amanda e eu ainda tentamos ficar juntas, transamos todos os dias, passeamos, procuramos emprego, aprendi a fazer várias coisas com jornal e revistas, recebi café na cama várias vezes e entreguei flores amarelas, vermelhas, e azuis a ela...
Amanda e eu éramos então unha e carne, puro amor.
Terminamos algo que nunca começou quando a vi com seu amigo da Universidade (havia concluído há um ano) em nossa cama. Eles me viram e Amanda ainda tentou me explicar alguma coisa enquanto eu fazia a mala. Ele saiu sem camisa e nem olhou para trás.
Hoje te escrevo para dizer que te amo e sempre amarei
Amo sim...
Não rasgaria mais seu rosto de lágrimas falsas, pegaria outra condução e voltaria para dizer que te perdôo. que a vida é assim mesmo e que sinto saudade de seu cheiro e sua ausência de batons.
Mas me recolho a esta carta, me reprimo a estas linhas e confesso que vivi uma gota de ilusão, outra de realidade... Ainda me faltam mares e não poderia demorar mais aqui sentada. Eu também menti para você. Muito. E não consigo imaginar como você pôde ter acreditado... Tola!
Agora olhe para cá...
Olhe bem para meu corpo e lembre que ele esta ardendo de desejo por você, vou me vestir.
Não toque!
A vida ainda quer passar a mão em mim, sentir cada curva e dizer que sou toda dela, quer me ensinar por A mais B que as coisas podem acontecer de todas as maneiras, de todos os cheiros, de todas as cores e também sabores. E eu nem preciso deixar...

Com amor, Carla
856555874 me liga!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A menina do farol

Cheguei na barra por volta das sete e ainda estava escuro, bebia uma espécie de suco com alto teor alcoólico e para falar a verdade, o céu devia estar claro, mas por conta da chuva fraca e persistente minha lembrança é de uma manhã negra...
Meu corpo, tão pesado, me obrigou a sentar um pouco e inventar nas raras pessoas que passavam histórias tristes de vidas amargamente sofridas, tentando encontrar semelhanças entre tantas caras inflamadas de lamentos. Pessoas frias por baixo de guarda chuvas medíocres que lhes tiravam a única coisa boa daquele momento... A chuva.
Foi exatamente vendo, ou inventando, pessoas tristes que meu suco foi acabando e dediquei então meu olhar vago a uma menina mais triste que todas as outras meninas dali. Ela era pequena e sentava-se parecido comigo (só). Acho que de onde eu estava ela cabia na palma da minha mão, assim, fechando um olho...
Eu deliciosamente fui inventando uma história para ela, uma que doía meu peito.
Não era possível, com o olhar de hoje em dia (claro) que a menina me avistasse, que ela me percebesse...era longe e eu não merecia muita atenção com aquela roupa comum, num dia comum e bêbada. Mas a menina da chuva caminhou passos contados, leves e molhados até que me encontrou.
E ela nem era tão pequena.
-Posso sentar aqui?
-Como?
-Posso sentar com você?
-Sim, mas...
Ela nem aguardava minha resposta, pois logo se sentou, cruzou as belas pernas e por mais que eu tente, não recordo de nada interessante naquela conversa de olhares e sorrisos, mas assim que ela se levantou e ameaçou sumir pela escadaria do farol, me deu muita vontade de perguntar seu nome ou seu perfume, mas a chamei alto para simplesmente e irresponsavelmente dizer:
-TE AMO.
Ela sorriu mais uma vez e concordou (?) com um movimento rápido e único da cabeça que me lembrou Amelie Poulain, ou algo bem singelo e intenso. E por muito tempo não pensei nela... Acho que a ressaca foi suficiente para levar aquela lembrança que pareceu ter sido uma loucura da minha cabeça que rodava muito.
A menina da chuva que eu amei voltou a minha cabeça naquele dia que passei de carro pelo mesmo farol... Estava apressada, mas os sinais (que parecem adivinhar) insistiram em fechar justamente para mim num ritmo constante. Em um sinal que parei me lembrei da menina, mulher e também irresponsavelmente dei uma volta para estacionar o carro, desci.
Eu estava cinza, totalmente comprometida no trabalho e cheirava a cigarro pois o vidro do carro andava quebrado, não abria mais, e eu fumei lá dentro uns dois... fui em direção ao farol, estava desta vez um dia bonito, e inventaria histórias bem safadas para cada pessoa ali, não perderia meu tempo pensando tristezas. Aquele rapaz inclusive, deve estar fazendo sua caminhada diária, que começou há exatamente quatro dias pois sua namorada, uma loira de cair o queixo não gosta muito de seus poucos acúmulos de gordura. Ele deve voltar depois daqui para casa dela, onde passaram a noite fazendo sexos com diversas posições novas... ela deve ter ensinado para ele.
O cabelo molhado do rapaz me lembrou a hora e logo que ele passou direto por mim parei de inventar sua história, tava meio chata. Debrucei-me então lá de cima do farol para avistar a menina... Inútil. As pessoas lá de cima pareciam formigas e eu poderia então acabar com todas elas.
Desci.
Do lado de fora, dei de cara com uma menina de vestido branco que me sorriu e reconheci imediatamente pois fez o mesmo gesto único e intenso com a cabeça...
-Oi, -Falei boba e também sorridente na inutilidade de falar palavras.
-Oi
-É...vamos...sei lá, conversar um pouco? Não lembro muito do que ficamos falando da última vez que te vi.
Ela maravilhosamente abriu um novo sorriso e percebi que ela era realmente nova, rosto delicado, 18 anos no máximo.
-Tá de carro?
-Tô, respondi no automático.
-Tem um lugar lindo que a gente podia ir...
Fomos em silêncio para o carro, era só atravessar a rua.
-Você estava muito bêbada naquele dia...
-Sim, sim, uma bêbada! -Respondi ligando o carro e saindo de uma vez com uma pontada forte de orgulho por estar com aquela menina ao meu lado.
-Trabalho no museu do farol, naquele dia não abriria, mas como moro perto, vim para passear um pouco.
- Na chuva?
-Eu gosto...
-Não é nada mal, mas geralmente quando me atrevo a fazer isso ganho pelo menos uns três dias de tosse. –Sorri, já não estava tensa como antes.
Ela passou a mão no meu cabelo, que agora estava preso e arrumado.
-Vire aqui - disse ela rapidamente – e siga direto, só dobre a esquerda no semáforo e já chegamos.
Quando estacionei não destravei as portas,
-Seu nome, por favor...
- Laura.
Falei o meu para ela e descemos para o lugar bonito que podíamos ir, segundo ela. Era um bar.
-Já conhece este lugar?
-Não –respondi- mas já ta funcionando uma hora destas?
-São dez horas!
-Puta que pariu, meu trabalho – soltei.
-Estou te atrapalhando, desculpa.
-Não, não...eu que quis parar e te procurar pelo farol.
Ela ficou meio sem jeito, deu para perceber e odeio situações deste tipo... Você às vezes não sabe se está diante de uma bela amizade ou de um caso, um amor. Mas a gente entrou.
Nem precisamos de muito vinho para quebrar a nossa timidez e nos beijamos demoradamente, com cuidado e foi como se fosse nossas línguas estivessem também se conhecendo, se encantando uma pela outra e se amando. A menina porém se afastou de mim e com os olhos cheios de lágrimas me encarou por um instante, depois saiu com minha chave, que estava em cima da mesa e levou meu carro embora.
Sim, e eu não consegui fazer nada.
Nada... Na verdade demorei muito a entender aquilo. Estava sozinha, sem carro e sem explicações. Voltei ao farol e ao bar algumas vezes naquela semana, de ônibus, mas não a vi. Pudera... a esta altura certamente achava que eu havia denunciado á polícia. Tão logo seu nome não era Laura, para que me daria seu nome se o que queria era meu carro? Mais uma tarde foi passando e a título de curiosidade fui despedida do emprego. (CONTINUA...)

parte 2

Desajeitada então comecei a escrever já por volta das nove horas da noite, meus cigarros não iam acabar nunca e sinceramente, não era isso que tomava minha atenção naquele momento. O vinho também não ameaçava chegar na metade, fui procurar a melhor taça, uma que coubesse cada pedaço de pensamento solto e despedaçado, não achei e usei uma comum, assim como eu.
As letras e palavras foram então brotando naqueles rascunhos e eu usava caneta vermelha (odeio azul).
Cinco meses depois recebi uma carta. “Laura” havia mandado, dizendo o quanto lamentava o ocorrido e pedindo um reencontro, o endereço havia achado em meu porta-luvas, em uma fatura qualquer de loja. Dizia que não conseguia esquecer nosso beijo e que queria devolver o carro. Eu acreditei.
Recebi uma segunda carta três dias depois com local, data e hora, mas desta vez a carta vinha com uma foto. A tal Laura que eu amei estava sorrindo como eu lembrava e vestia um vestido de flores grandes...seu ombro esquerdo estava a mostra por descuido ou por saber que exatamente assim estaria me deixando louca de saudades...Me arrumei, vesti uma blusa daquelas com o decote bem bonito e passei um batom, arrumando meus lábios para ela.
Lembro agora com um leve sorriso no canto da boca a demora para escolher a calça que coubesse melhor. Não sei por que, mas não pensei em momento algum em não ir ao seu encontro. Tratava-se de uma linda menina, ladra e desconhecida... Encantadora demais para mim, uma mulher já aos trinta, que se contêm em viver só, longe de tudo que ultrapassasse canetas, vinhos, papéis, e um gato, claro. Gatos são sinônimos de independência e solidão (boa).
Eu não terminaria a história agora, com o nosso encontro...
-Oi, tudo bom?
-Tudo... tem visto Elisa do terceiro andar?
-Elisa se casou e foi morar onde coubessem seus sonhos
-Mas que sonhos aquela mulher ainda tinha?
-De viver talvez...
Ou
-Oi, tudo parado por aqui né? ... Cadê aquela Elisa?
-Elisa?
-É, a do 302, que foi assaltada duas vezes?
-Ah, aquela tonta que foi se encontrar com a própria assaltante?(risos) deve agora estar bêbada...ou indo ficar bêbada para esquecer (mais risos)
Tem gente que fala que muito do que vivo, só serve para escrever, na verdade minha escrita se resume a estrume, não encontro muito sentido, lógica ou beleza em nenhuma dessas palavras pejorativas, as vezes fedem. O que vivo serve para vida. O que escrevo também... Mas para a minha. Não posso nem quero escrever para ninguém...
Fui encontrar Laura ou qualquer outro nome que comportasse aquelas coxas lindas e aquele ombro nu. Fui e iria ainda umas três ou quatro vezes. Escrevi um pouco antes e não bebi sequer uma gota de álcool.
Esperei no ponto uns quinze minutos e fui para...o farol...
Estranho não passaria nem perto do que senti minutos antes da menina chegar, sim, ela chegou...estava exatamente linda e andava apressada. Ajudei caminhando também ao seu encontro e a recebi com uma parada brusca já próximo a sua boca. Ela falou muitas palavras soltas, daquelas do tipo...desculpa, saudades, mundo, pai morto, e mais desculpas... eu aceitei cada uma e não demorei a soltar umas também.
- Você está linda...seu nome é Laura?
-Sim...Laura Cardoso.
Fomos ao carro e tirei com muita pressa seu vestido vermelho, soltei seu cabelo e a toquei, beijei todo seu corpo e ela deixou. Minha calça, saiu quase que ao mesmo tempo que a blusa e ela teve todo o cuidado para colocar as peças em baixo de minha cabeça, como um travesseiro no banco de trás para então se deitar em mim e dançar em um ritmo que inventou. Me beijou os seios, e desceu com a língua até meu sexo, ficando um tempo por lá, e parecia se esbaldar como criança em sorvete.
Agarrei o seu cabelo liso e claro e mordi meu lábio de baixo, tentando suportar tanto prazer. Trouxe-a de volta para meus seios e então a senti com os dedos, era quente, muito molhada e apertada. Fiz ela se ajoelhar em volta de meu colo e assim a beijava o sexo e a entrava com dois dedos continuamente enquanto ela arranhava o teto do carro. Trocamos poucas palavras e muitos olhares, cada vez mais fundos. Ficando muito tempo ali.
-Eu sabia que você ia voltar Laura...
Deitamos um pouco, ela em cima de mim.
-Eu gostei de você desde o primeiro dia. Mas não achei que se interessasse por meninas.
-Ah... (ri um pouco) – Adooooro meninas!
Voltamos para minha casa de carro, e ela dormiu comigo por três meses. Depois sumiu ao ir comprar os pães do jantar. Foi a pé e deixou uma carta (no carro). Ela e essas cartas...
“Elisa, não voltarei... mas não levo nada seu além do dinheiro dos pães, pagarei uma passagem e depois me viro. Sou casada e menti muito para você, mas te amo e meu nome é Laura. Não me espere, por favor. Fique bem”
Acabei indo morar com uma mulher um ano depois, trabalhávamos juntas em um museu e começamos um relacionamento estável, bom e... Verdadeiro.
Laura mandou umas sete cartas ainda, mas como me mudei, peguei todas as cartas de uma só vez, em um verão que fomos a barra. Minha mulher riu um pouco da história e não assumiu estar com ciúmes. Eu ficaria...Não parei de pensar até hoje na menina.
Certa vez assistindo TV a vi...
Ela estava de roxo, ao lado de um moreno alto e musculoso em uma daquelas festas de casamento de gente importante. Seu nome era Michelle Boaventura (apareceu em baixo da TV, como uma legenda sabe?) e pelo visto era bem conhecida em São Paulo. Peguei um cigarro, o último da carteira, posicionei meu cinzeiro onde desse para o admirar.
Procurei sem olhar o isqueiro no sofá ao meu lado
Acendi o cigarro e puxei toda a fumaça que consegui
Mudei de canal e soltei tudo de uma vez só...Fui ver se roubava uma torta de chocolate da geladeira, minha mulher deveria estar dormindo uma hora destas.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

movimente-SE

Lixo
Luxo
...
pra quem vive de pó, de resto, de invisível a olhos consumistas, a realidade é bem diferente.
e ponto.
pra quem vive e nem sabe como
vive.
De frente com a desigualdade "necessária" você talvez nem sequer consiga pensar muito
mas vai sentir.
Por favor, sinta!
Não são cenas de TV.
Gente,
lixo...
na verdade na verdade não consigui calcular o tamanho, por conta de meu desespero.
(e uso reticencias aqui...)
catalogando palavras ficaria fácil escrever FOME, DOR, DOENÇAS, PESSOAS E LIXO.
mas escrevendo com esta dor em meu peito fica impossível.
não se digita sentimentos nem se posta lágrimas.
isso é uma inútel e infindável tentativa de exposição e clamor.
clamor a sair da bolha!
exposição do que tá na cara...mas fechamos os olhos.(pq?)

abramos os olhos, as mentes e os corações.!!!!

(foto da Lixeira de São Cristóvão, onde visitei duas vezes em "pesquisa" e levei mts pensamentos.)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

domingo, 28 de junho de 2009

Dela


Acontece que tem horas que sexo não vai bem. Não é que nem chocolate...
Meu corpo ariano, meio confuso e cheio de vontades também enjoa de companhias, de contato.
Talvez por ser meu, assim: Inteiro e moreno, ele insista em fazer só o que quero, mostrando ou escondendo suas curvas, seus detalhes.
Talvez por ser só. Assim: forte e fumaça ele delicadamente me siga e interaja com o resto de mim que ninguém pode ver.
Mas exatamente por ser meu, eu te diria não, eu te pediria sua mão e nada mais... naquele quarto depois de tantas escadas eu procurei não te entender ou te explicar, tirei minha roupa e fui deitar (ao seu lado).
Fiz de conta, fugi da conta e fui sua no sentindo mais profundo, mais completo...ate o fim. Dos fios de cabelos, dos quadris. Fui toda sua e nada minha, fui faz de conta e você foi feliz.
Te digo que talvez por ser assim, errada e abusada, jogada em você, perderia meu espaço, ficaria sem me ver. Acontece que tem horas que você não vai bem. Não é que nem chocolate... Meu corpo ariano, muito confuso e cheio de saudades precisa voar, se encontrar.
Saio daquele quarto de pensamentos, fica o avesso de muitos ditos e não ditos, de muitos toques e saliva que venho trocando com você. Carrego o encaixe perfeito e fecho os olhos pra te ver (em cima de mim), talvez por ser você... Talvez por ser assim, também morena, também inteira.
Mas agora já vou, cê sabe...não estou afim.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Ainda hoje...



Hoje eu quero escrever para a Loucura e pedir a mão para dançar. Quero pintar suas unhas curtas de um vermelho berrante e dizer em seu ouvido coisas que não vêem ao co caso citar.
Na verdade hoje quero escrever para a Loucura porque ultimamente não tenho escrito nada de interessante, e sendo assim, meu coração aperta fazendo minha mão co,car. de vez em quando.
Eu, exclusivamente restringida a um ser egoísta quero escrever para a Loucura e não para você. Com ela talvez as coisas dêem mais certo, ou quem sabe as linhas em branco sejam preenchidas mais rapidamente...quem sabe?
Quero escrever uma coisa que estou precisando desabafar e com certeza ela e a pessoa mais indicada. Ou não. ...
Quero escrever para a loucura porque ela perdeu o celular.
Vou entretanto descansar um pouco antes de iniciar. Não quero escrever besteiras, ou magoar ela. Quero escrever para a Loucura com gotas de seu vinho tinto seco preferido que vou comprar já já.
...Espero que ela responda logo ou venha me ver.
Somente a Loucura fala do coração e eu quero perguntar uma coisa a ela.
Vou escrever em um papel pequeno, branco e simples, pra que mais?
Quero escrever para a Loucura
Quero chamar para ver um filme
Quero segurar em sua mão pequena, depois a levar em um canto escondido e roubar um beijo.
Vou escrever pouco, coisa rápida. Mas seria. Urgente!
Antes, no entanto, vou dormis um tanto, estou cansada.
Ainda hoje escrevo para a Loucura, porque ela perdeu o celular ontem a noite no mar comigo.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Doenca


Sou de todos os sintomas o mais grave,aquele que quando vem, voce sabe que é sério...sou aquele que se mostra ou vem para mostrar algo.
Sou de todas as causas o efeito colateral, aquilo que fica e implica com você.
Não sou porém assim tão simples,descrita em uma receita, não sou recomendada em diversos problemas.Fico para casos de tarja preta, e não curo, eu misturo, entendo, provoco,
ou não.
Eu repentinamente, em doses corretas, sou capaz de levar ou trazer alegrias, de aumentar ou diminuir a pressão de seu coração frágil.Controlar porém nao vem ao caso, custo caro e não sou para estas coisas.
Entre várias gotas, dependendo do peso de seu sentimento, devo ser diluida para o sabor não assustar. Se amarga, logo vem o doce e em segundos o resultado.
Com freios ou sem receios,com febres ou com delírios, eu venho para dizer na contra indicação que não me use. Que não abuse do meu amor, pois sem resposta ele cria validade e vai embora...ou faz mal...
ENCHA UMA COLHER DE SOPA E ME ENGULA AGORA! SEM PENSAR EM PREPARAR UM COPO D'ÁGUA PARA DEPOIS. ME SINTA E DEIXE EU FAZER EFEITO, DEIXE EU CURAR SEU MEDO, DEIXE EU ENTRAR EM VOCÊ E ME CONHEÇA MAIS!
ME TIRE DA CAIXA, ME ABRA, ME TENHA E ASSIM SE VICIE, SE ESBALDE NO QUE É SÓ SEU.
Sou medicamento e medicada, injetada diariamente de você por agulhas que entram direto no peito e vem perfurando sonhos, me dando altas dosagens de realidade.
VOCÊ É MINHA ALUCINAÇÃO!

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Fim do tedio.



Com seus braços frios, me envolve nessas horas e me leva para “bem aqui”... Porque faz isso comigo? Porque você costuma controlar meu relógio, puxando os ponteiros para traz com uma espécie de fio bem esticado?
Que mal te fiz para me sufocar agora com sua insuportável presença? Te matarei assim que possível.
Com seus olhos carentes, me veio rastejando, subindo pelas minhas pernas cruzadas.Me toma a cabeça! Com seu jeito de chegar em mim, acabo me rendendo e sofrendo porque por vezes parece que eu que entro em ti.
Cansei de suas visitas inesperadas, constantes...
Vai embora, antes que eu te mate!
Não me abrace. Me largue, seu hálito me incomoda, seu perfume já me causa enjôo. Cansei de te ter por perto, Eu quero algo maior que um céu aberto para você não me encontrar.
Seu sorriso, pe;co que engula ele, falando em tom de ordem...antes que eu te mate.
Saia por aquela porta, ou por aquela janela ou pelo meu rosto imóvel. Saia sem olhar em volta para não pensarmos em saudade... Seu cabelo... Vai lavar,ficou sujo. Corte ele um pouco (mas não me mande fotografia depois, não te quero nem assim)
Desculpa, mas vai embora antes que eu te mate. Vai,
Solte minha mão suada, seus anéis machucam. Seu casaco e seu chapéu não combinam comigo. Suma daqui, meu corpo se cansou de te carregar.
Não me sufoque assim, ou eu te mato.
Mato sozinha ou mato junto com aquela menina que finalmente acabou de entrar.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

pra vc


Rasgo dentro de mim os pedaços do passado. Não te darei meu croração com eles. O refaço com melodias de alegria e certezas, banhando a cuidado.
Não te daria um coração que não te merecesse, que não fosse te agradar. Eu o embalo em papel vremelho, agora batendo forte em sua direção...banhado de cuidado.
Banhado de afeto,banhado de um compasso que quero aprender. Te dou minha melhor parte ,querendo que um dia me peça por inteira, me mastigando e misturando com você,para que então nem dê para ver a que fim se deu nossas tristezas (vindas de outras batidas).
Rasgo dentro de mim e ao mesmo tempo vou costurando, em direção contrária, vou costurando pontos firmes o que quero...assim acontece o que chamamos de vida.O queremos um dia entender.
(Elis)

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Vai!


Não me canse, ou demonstre que os instantes passam devagar.
Não fale se não precisar.
No eterno minuto que falta eu reprimo qualquer felicidade que possa brotar na minha cara. E você ainda dispara em olhares e mancadas. Pelo menos para mim.
Não me canse, olhe para lá ou então finja que não estou.
Vou e volto com as idéias sentindo que tudo pode ser, ou que ainda dá pra fazer um remédio para durmir sem você,
na cabeça...
Não vou falar nada que queIra, já sei de tudo e não vou te explicar, não cabe a você me analisar.Vá embora e não rasgue as cartas.
Me sinto mal por querer te encontrar apenas no mundo ireal, onde podería denovo te amar.
Eu me explico o universo e remeto a cada resposta um significado novo a cada segundo que passa...passa...
Vire pra lá ou finja que não estou.Não insista em escrever, não tenho mais porque ficar, o tempo acabou.
Sou seu mistério, seu remédio, seu infinito não dito.Mas agora vá e não estique a sua mão para a minha.
Não me canse.
ande
olhe para lá, ou finja que não me viu.

domingo, 22 de março de 2009

uma breve conversa sobre a ciência

O ser humano sempre necessitou conhecer o mundo ao seu redor, as pessoas e as transformações. A religião, a magia, as crenças populares e a ciência, todos eles tentam achar explicações, tentam conhecer cada vez mais a realidade buscando uma ordem, se não necessitássemos da ordem para viver, nós não a procuraríamos. A ciência, porém desde seus primórdios tentou inventar métodos que impossibilitassem que os desejos, ilusões e preconceitos humanos “corrompessem” um conhecimento objetivo. Em suma, é relativo falarmos hoje o que é ciência, a grosso modo alguns diriam que ela se vislumbra em um método e que busca a verdade, outros a enxergam como unicamente pessoas de branco em laboratórios, há ainda quem diga que nada mais é que o senso comum refinado e disciplinado, enfim, o que encontramos são diversas opiniões sobre o assunto. As pessoas entendem a ciência de diferentes modos, a enxergam de diferentes ângulos e esperam delas coisas muito diversas.
A ciência se difunde em diversas áreas com objetivos específicos, temos as ciências naturais e as exatas, por exemplo, cujo objeto de estudo é distinto, mas seja ele qual for, a ciência sempre se inicia com um problema, curiosidades ou dúvidas e seguem uma ordem metodológica que pode ser testada. O que diferencia o discurso científico de todos os outros discursos é a sua possibilidade de ser verdade, uma verdade testada e comprovada. O que não deve acontecer é colocarmos a ciência como verdade absoluta e incontestável, um dos seus grandes problemas é o de "se bastar", marginalizando os demais conhecimentos que outros seres humanos produzem.
Muitas foram e continuam sendo as tentativas de buscar a natureza da ciência uma espécie de estatuto a - histórico para a sua realização e perpetuação universal, isto não condiz com a realidade visto que a ciência, assim como todas as formas de conhecimento, muda e evolui. Descobertas são feitas a cada dia, e a natureza do conhecimento cientifico, bem como a sua justificativa mudam historicamente, nós só podemos entender ao passo que nos damos conta que cada contexto histórico possui instrumentos, cientistas e práticas diferentes. É necessária a desmistificação da ciência, iniciar uma discussão sobre a mesma pautando-se na idéia de que a ciência é algo imutável ou mesmo sobrenatural é estar fadado a perpetuar a influente ideologia que fala de uma extensão da ciência bem além dos seus verdadeiros limites.
Sendo a ciência é uma especialização, propõe-se a um refinar dos potenciais comuns a todos. É certo que esta trouxe grandes avanços à sociedade humana e à sua relação com o meio em que vive, nos fez caminhar e realizamos descobertas realmente importantes, porém, ao mesmo tempo em que contribui para o “desenvolvimento”, serve como meio de dominação do ser humano pelo ser humano na medida em que esconde as reais contradições, renega a existência de modos de pensar e de se produzir conhecimentos sem a utilização do método cientifico. Nos deparamos atualmente com uma busca desenfreada em se produzir conhecimento científico, universidades, cientistas, todos pesquisam, buscam teorias, soluções, buscam provar fatos. Mas até que ponto todos esses estudos surtem efeito? Quantos deles vão realmente ser levados adiante, ou terão visivelmente algum impacto no mundo e nas pessoas que vivem nele? A ciência, bem como a mídia, a educação (entre outros) seguem uma ordem, cumprem um papel no sistema socioeconômico em que vivemos.
A ciência deve ser uma função da vida, se desenvolvendo em direções de acordo com os interesses e necessidades da população e não de governos, corporações multinacionais ou militares. Há miséria, desigualdade, fome, doenças a nível global. Quais estudos científicos estão sendo feitos em relação aos verdadeiros problemas da humanidade? Para onde estão indo nossas pesquisas e quais são suas finalidades, são perguntas que não devem ser silenciadas. Além disso, outro ponto relevante para que nos questionemos é do limite da ciência, até onde podem ir certas pesquisas? Muitas vezes por um “em nome da ciência” são realizadas experiências ou estudos descomprometidos com a vida sem se pautar na ética. Cabe a cada um de nós um repensar sobre o assunto e que possamos nos perguntar que tipo de ciência queremos e buscamos.


-Texto baseado nos livros:
"Filosofia da ciencia" e "A história da ciencia"
-E nas discurções feitas no Centro Acadêmico Livre de Biologia da UFS

Falando

Se cada um fosse

mais
um
...
Eu enfiaria guela abaixo a hipocrisia de se dizer
ser
humano.
Enfiaria guela abaixo
de uma maneira que lhe tapassem a
res
pi
ra
ção
até morrer.

Mas se cada um soubesse a força que se tem,
e a força da união se mostrasse todos os dias,
Aí eu enfiaria com uma agulha grossa tudo que tivéssemos juntado
nos olhos de quem hoje nos deixa cegos
e nos enche os corações
com a fragilidade de sermos um.
Eu quero é ser um só com o restante do mundo
EU QUERO QUE A DIVERSIDADE NOS DEIXE FORTES.

mEniNa dO beM QueRer

Menina do bem querer
o que te faz ser
aquilo que em sonhos
em eternos sonhos
quero ver?

O que passa pela rua ou de relance
O que pede cedo ou tarde
que levante
e que me cante aquela canção

Menina do bem querer
o que falta pra ver
que não tem nada de errado
que não tem nada demais
me ter?

O que me fez vir contar
o que o ceu e mar já sabem
foi o tocar em frente
que se tem com coragem

Foi o que entendi como sendo amar
com sendo "deixar voar".
Mas a arte de esperar
pode fazer cansar

Mas o céu e o mar mandaram contar
á menina do bem querer
que ela está guardada
que sempre estará

O futuro ninguém pode jurar
Pois o amar
O mais puro amar
não se deve explicar

Menina do bem querer
O que falta ninguém vai dizer
e o que você sente é mistério (ou talvez um bolero)
que não soube te fazer

O que passa pela rua ou de relance
O que pede cedo ou tarde
que levante
e que se encante
com tudo que pode acontecer
se você deixar...

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Aprendi com a flor


Os movimentos se refazem agora de acordo com o frio daquelas nuvens pesadas que agora chegam sem parar. Os movimentos se deleitam. Se esbaldam, parecem que como em um mar de rosas, mergulham de cabeça, sem tirar a roupa e sem pensar mais de uma vez.
Eles são fruto do vento gelado, do silêncio da noite, que chama.
Eu quero um balanço que me dite, que incondicionalmente me cite como alguém que lhe pertence, que na calada da escuridão movimente até os fios do meu cabelo, fazendo meus olhos fecharem, mas não por medo...por sentir que facilmente me rendo ás melodias ocultas daquelas horas.
Felizes.
Os movimentos fazem parte de mim e são como idas e vindas que marcam em batidas e que passam de relance na cadencia da vida.
Que então a vida me leve!
Vida leve, que leva e traz das mais variadas formas seus mistérios, enganos e desventuras.E que loucuras hei de pensar se não é verdade que há eterna continuidade de sinfonias, e que as melodias por vezes parecem desafinar?
Movimento e assim vivo. Sinceramente pareço por horas estar buscando o invisível de mim,
eu não quero estar passível a acompanhar músicas já escritas, marcações ou coreografias... Que o corpo fale, e abrace cada sensação, cada horizonte que valha a pena e que não seja pequeno, mas simples.
Aprendi com a flor de uma aldeia a sentir e a não diminuir cada momento, que carrega sua beleza e certeza de querer ser vivido, dançado ou escrito.
Os movimentos existem e não vão, nem devem ser silenciados. Eu invento e desacredito a todo instante, mas insisto em dizer que eles por si só nascem a cada anoitecer.
E assim como a própria Lua, guiam e me fazem pensar em não mais eternizar o que já vejo ter começo e fim. O que não necessita existir para que se possa sentir e buscar na incansável vida, ou canção.... que ousamos cantar e movimentar em contradanças irregulares.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Pelos Mistérios

Eu tenho certeza que as coisas estão perfeitamentes colocadas uma sobre as outras, se organizando em uma ordem cósmica e embelezam-se mutualmente a medida que encontram a simplicidade e o respeito como eixos centrais da vida.
Eu acho que eu tenho muito ainda para pensar antes de falar dessas coisas, mas se olhar com carinho, mesmo que de relance, percebo o quão perfeitos são os dias e os acontecimentos deles e neles!
Gostaria de entender certas coisas, mas me contento em admirá-las e pensar nelas da forma mais profunda.
Tento suprir os espaços em branco deixados pelo labirinto invisível do universo, me encanto em não conseguir sequer iniciar a desvendar! E sentada em baixo das estrelas, estico as pernas e levanto o rosto o máximo possível sorrindo da imensidão das coisas.
Coisas puras
e infinitas
Coisas que fazem as nossas vidas!

nº 4

Quatro distantes palavras
Quatro distintos significados
Quarto vazio
Quadro pregado
Quatro partes de seu corpo
Claro sentimento
em quatro pedaços
Quatro elementos, faço, troco, invento
Quadro não se move
Quatro vezes com você
Quarta feira!
Quanto
Quero
Tanto espero...
Espero!
Tudo é se´mpre e nada é nunca, e ás vezes penso,
outras choro, procuro um lugar
ou uma máscara para esconder
algo tão...bonito...
Mas que não pode ser.
Quero
Quatro vezes
Qanto tempo!
Qando lembro...
Quero e chego a acreditar que tudo vai dar certo um dia.
Uma quarta vez
Uma quarta feira
Um quadro no quarto,
talvez um retrato em cima da TV.

Essência

Seja lá qual for o jeito, ou a cor ou o cabelo...
Seja lá qual for o argumento para chegar junto.
Seja lá qual for o sexo ou o calçado!Muito menos imapota a caligrafia, o penteado ou sua ousadia.
Não vou dizer que ligo para coisas como a cor do esmalte, a quantidade de piercings, a rapidez do convite, a firmeza no olhar.
Não quero certezas,
Não quero belezas que possam borrar.
Não busco nem ligo se canta ou dança, se bebe e depois desmancha em lágrimas sem porquê.
é fato que não conta a pouca ou muita idade, a quantidade de pimenta na comida, a ausência de anéis, a vergonha ou a sua falta, eu não ando buscando essas coisas...
Tento achar a essência detrás de tudo.
Um papo
Um retrato...
Não dizem tanto.
As pessoas carregam muitas coisas consigo e diversas vezes não percebemos as belezas mais verdadeiras, as sutilezas que dizem tudo!
Me apaixono pelas coissa mais escondidas, me encanto com o silêncio, me impressiono com o que vai além.
Fica o digo
O faço
O gosto
e eu espero o "SOU" mais profundo do olhar das pessoas dentro de mim.