segunda-feira, 23 de setembro de 2013

a cor...

Desordem?
Bagunça?
Não... É Revolta!
NÃO QUERO QUE FINJAM QUE TÁ TUDO BEM!
Quero que minha cor grite e palpite, bombeando meu sangue em todos vocês.
Meu sangue e meu suor, meu ritmo e minha matriz africana...
Trazida de minha terra numa viagem desumana, numa viagem que não desejo a ninguém...
A viagem demorou e doeu, mas doeu tanto, que não imaginei que ainda houvesse dor maior que aquela.
Foi então que cheguei, e vivi as dores diárias e eternas da escravidão.
Açoite, fome, trabalho e opressão.
Meu orixá teve de ser escondido em imagens brancas,e minha dança agora só podia acontecer escondida, dentro de mim.
Eu também ia me escondendo... no medo! Eu ia suplicando por forças...
Fugi algumas vezes e me torturavam ca-da-vez que me pegavam de volta.
Aquela dor me dava vontade de morrer!
Mas eles nunca me matavam, me deixavam lá... sofrendo...
E realmente não sei de onde consegui força para tentar fugir outra vez, para tentar ser livre!
Hoje, milhões de “mim” estão “livres” pelo Brasil.
Uma liberdade escondida no medo e em imagens brancas.
Hoje, milhões de mim fazem viagens desumanas, sofrem tortura, dançam escondido.
A escravidão continua, o preconceito é muito forte.
Não, não venha falar de mim, eu tenho boca!
Tenho uma boca do tamanho desse mundo que me açoita diariamente!
Que me faz esticar meu cabelo, rezar o terço, procurar “meu lugar”.
Meu lugar é onde eu quiser!
E minha cor grita por liberdade.
Mas não por uma liberdade assinada por “mãos brancas de princesa”.
Minha cor quer sua liberdade por si mesma. Com sua beleza e com sua história.
Não sou descendente de escravos.
Sou descendente de Africanos que tiveram sua paz, família e vida roubadas, violadas.
(...)
Incenso então todo o meu corpo e num banho de folha renovo minhas forças,
mas não mais pra fugir.
Renovo as forças para permanecer aqui.
Lutar aqui e viver... bem aqui,
E onde mais eu quiser ir.
Eu não posso fingir que tá tudo bem.