
Mas seu nome era igual ao seu primeiro olhar, simples e ao mesmo tempo penetrante. Eu sempre preferi chamá-la pelo apelido (que eu mesma dei) mas a promessa era que se um dia a gente se casasse, eu a chamaria pelo nome que ela quisesse.
Para entendê-la fui sozinha á praia em um dia de quarta feira e desde então faço isso quinzenalmente, como uma espécie de trabalho espiritual. Endireitar-me olhos nos olhos com o mar, sentada e bem junto a ele, eu busco muitas respostas que só eu posso me dar, mas não assim na correria do dia a dia... Ando sentimentalmente abalada e o único agito que agüento é o do mar, ele se mantém belo mesmo se destruindo a cada segundo naquelas ondas, hoje muito fortes, sendo assim, o admiro.
Era uma boca despedaçada em mil PECADOS, mas todos agarrados e incrustados ali em minha frente, quase colada em mim, e eu a afastando mais no pensamento do que na minha cama desforrada. Era um olhar que não simplesmente me prendia, nem simplesmente fazia qualquer coisa, era um olhar completo, enxuto de simplicidade ou carente de definições e ele era o grande culpado por eu ainda estar ali.
Acabara de bater o sino da igrejinha que ficava duas ruas atrás de meu apartamento, se não me engano...meia noite era quando ele balançava assim ligeiro..enfim, anunciaram algum horário e eu decidi tomar um banho pois a qualquer momento Mônica chegava e finalmente havíamos casado. Nossa festa não foi como sonhávamos, mas conseguimos reunir parentes e amigos mais próximos. Não teve vestido branco, ela preferia vermelho então optamos por roupas comuns.
Ela demorou mais umas três horas e eu acabei cochilando no sofá do quartinho da TV...
- Bia? Acorda amor...
Eu a escutei, mas fingi que nada acontecia, cocei o olho e me virei de costas bocejando...
-Bia, cheguei! Levanta e vamos tomar um café! ... Bia...
Que saudades de sua voz, de sua ânsia por café, que vontade louca de agarrá-la e beijar seu pescoço,sentir seu perfume, seu cabelo cumprido...
Fiquei imóvel.
Ela ao invés de tentar mais uma vez desistiu muito fácil e foi colocar a água para ferver...acompanhei cada passo, a porta do armário abrindo, a panela caindo e em seguida sendo cheia de água...ela não sabia onde estavam os fósforos! Ia ter que me acordar! Eu os levei para o quarto, fumei mais cedo. Caprichei na cara de quem dorme profundamente e dito e certo...
-Bia...meu bem, acorde! (...) Bia! (...) Se você não acordar exatamente agora...( Foi aí que ela sentou em cima de mim abrindo as pernas e me encaixando ali em baixo como uma galinha ao aninhar-se para chocar os ovos) ...se você decididamente não acordar mesmo... eu vou ter que fazer algo em relação a isso.
Eu não resisti e soltei uma risada sem querer, fazendo com que eu perdesse todo respeito de uma pessoa adormecida. Mônica se levantou e me puxou do sofá direto para o chuveiro, onde me empurrou de roupa e tudo. As duas estavam rindo muito a esta hora e acabou que deixamos o café para depois... Ela cuidou de tirar minha roupa e eu a dela, cuidando também de não perdermos nossos olhares, que estavam ali, atentos, fortes, intensos...
Ela e eu já sabíamos que nossos mundos estavam bem distantes, bem complexos e até confusos... que nas voltas, nas idas e vindas que o mundo e a vida dão, a gente por vezes fica caminhando meio que descompassado... Mas um samba e uma existência precisam de tempos e marcações que vamos aprendendo ao sambar, quero dizer...ao caminhar. Ela e eu nos amamos e isso ninguém poderia tirar, exceto nós mesmas.
Ela e eu aprendemos a buscar nosso espaço ali, no olhar recíproco, na sinceridade de estar juntas e entender apenas isso! Este momento, este tempo, esta verdade.
Eu preparei o café e como estávamos felizes dei logo o presente que havia comprado na sexta...
-Puta merda! Você comprou!(...) Brigada Bia!
-E aí? Gostou?
Ela ainda olhava o livro, leu a dedicatória e sorrindo balançou a cabeça positivamente,falando finalmente...
-Eu queria muito ler este livro, pensei até em comprar na viagem, mas não o achei...brigada mesmo amor.
-De nada... mas me diz...como foi lá?
-Ah... perfeito né? Eu conheci tanta gente, apresentei meu trabalho já no primeiro dia de congresso e depois fiquei de turista mesmo. Tinha uma menina lá que mora em Minas Gerais, grudei nela e nos amigos e acabamos que conhecemos muita coisa juntos. A dormida não era boa sabe? A comida pior... mas preferimos comer por lá mesmo pois não gastaríamos o dinheiro da cerveja com almoços fora.
- Você gostou mais de que lá?
-Do caminho entre uma coisa e outra... os momentos que ninguém falava nada, e eu só via a cidade correndo pela janela do carro, pela minha frente, queria imitar a cidade...correr.
Levei certo tempo até parar de tentar perceber, de tentar notar coisas tão estampadas em minha cara...comecei (tem exatamente um dia hoje) a identificar maravilhas cotidianas ao invés de estar sempre buscando algo maior, algo paradisíaco... nós não devemos nada a ninguém, apenas sinceridade e um sentimento verdadeiro uma a outra. Aprendi em tardes sem sol que a gente morre e nasce a cada dia, não tem para que ter medo de começos, finais...eles estão sempre acontecendo,por vezes em conjunto! (...) Dormimos então o depois de tomar o bendito café e acordamos juntas ainda por muitos meses. Dividimos muitas conversas, frustrações, alegrias e as noites mais boemias de minha juventude. Hoje estou fora do Brasil, para fazer mestrado e cada vez que lembro dela vem aquele cheiro, aquela profunda insistência cotidiana de seu olhar. De nosso olhar.
Eu sabia que viria, já estava tudo programado para vir depois da faculdade, sim, eu sabia que nada deveria me prender naquela cidadezinha, não podia... Mas o que quero dizer, o que mais quero e preciso dizer aqui são duas coisas. A primeira, vou carregar ela comigo aonde quer que eu vá. A segunda (mais secreta e verdadeira) é que sentimentos são andorinhas SOLTAS e existem verões e invernos loucos, não dá pra controlar
parece um conto-história de uma menina
ResponderExcluirque mora em Cuca. Mora?Ou vai morar?
...
vai morar!
ResponderExcluirano que vem...