Rosa andava tão cansada, acostumada com isso de sono, preguiça, e todas as coisas que aproximassem ela do sofá... Afastando coisas como faculdade, rua, inglês e a correria do dia-a-dia. Assim, ia se acostumando com os pés descalços, a roupa largada, o cabelo preso. Assim também, ela ia me acostumando com a saudade.
Ela tem esta mania de encantar pessoas com seu jeito. Precisava apenas existir, sorrir, passar por aí com seu cabelo e preguiça, que já causava reboliço. Aí depois sumia dentro de um livro qualquer, (ou num seriado da tv)... E cada vez que aparecia de novo, em um e-mail, telefonema, ou na praia, sempre estava mais bonita!
O cansaço de Rosa dava a impressão de que “sim, tinha muita energia”, mas com algumas coisas realmente não valia a pena gastá-la. Usá-la com coisas tão repetidas não era nada atraente para ela. E demonstrava então este cansaço de viver, o dia-a-dia, o igual... Ultimamente tinha a preguiça assim, como um bichinho de estimação, querido, que precisava de seu carinho, carregando ela pra muitos lugares.
Certa tarde, Rosa chegou em minha casa com a sua preguiça, estava grande! (devia estar cuidando bem dela...) e então se deitaram em minha cama, as duas, barriga para cima, sorriso sempre no rosto. Elas me chamaram e como de costume, fui. Percorremos com palavras os lugares que nunca imaginei ir, usamos e abusamos da criatividade, imaginação, e as horas iam passando por nós três sem que percebêssemos. Na verdade nem lembrávamos delas...
Algo precisou acontecer para que a gente entendesse que já anoitecia. As risadas e as conversa sobre o mundo, as coisas, as pessoas e os sentimentos foram interrompidas por um bater na porta da sala, forte, que me fez saltar da cama. Não esperávamos ninguém. Nos entreolhamos e fui então ver quem era. A preguiça de Rosa não deixou ela levantar e ficaram as duas lá me esperando trazer notícias.
- Boa noite Rita.
Era meu vizinho do 302, parecia irritado. Respondi tentando mostrar que estava ocupada, mas ele não deve ter notado, e continuou...
- Rita, a gente precisa conversar. Já são 22h, estou com criança em casa, não sei se você viu, mas minha esposa voltou ONTEM da maternidade, e seu som, sua festa... olhe Rita, não queria chegar a este ponto sabe? Nunca tive problemas com vizinhos, e ...
- Mas...
- Rita, continuou ele, - Só queria pedir primeiramente com delicadeza, mas espero não precisar voltar aqui... Passar bem!
E se foi, entrou em casa, me deixando parada na porta, em estado de choque... Que festa ele estava falando? Fiquei sozinha em casa o dia todo, a Rosa chegou com a preguiça só de tarde e nós três não saímos da cama até agora... Voltei pro quarto, (a Rosa me chamava repetidas vezes, ainda deitada). Notei que o som realmente estava ligado, abaixei o volume, estava no 70, isso me fez notar que realmente estava alto, falei com Rosa do ocorrido, e ela rindo me puxou pra cama, dizendo que prometia falar baixo, foi aí que notei que, também, realmente ríamos e conversávamos muito alto.
Deu 23h e a preguiça começava a demonstrar sono, desliguei o som para não atrapalhar nem ela, nem o bebê do vizinho. Rosa tentava colocar a preguiça para dormir, ficamos então conversando baixo, rindo baixo, trocando todos os nossos olhares e carinhos.
A preguiça dormiu!
Levei-a com cuidado pra sala, voltei, trancando a porta do quarto, e Rosa já estava de pé, veio correndo me abraçar, aquele abraço forte, demorado e quente... Foi então que voltamos para a cama... Desta vez sem preguiça, e enquanto ela dormia, nós nos devorávamos pela madrugada.
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