Desajeitada então comecei a escrever já por volta das nove horas da noite, meus cigarros não iam acabar nunca e sinceramente, não era isso que tomava minha atenção naquele momento. O vinho também não ameaçava chegar na metade, fui procurar a melhor taça, uma que coubesse cada pedaço de pensamento solto e despedaçado, não achei e usei uma comum, assim como eu.
As letras e palavras foram então brotando naqueles rascunhos e eu usava caneta vermelha (odeio azul).
Cinco meses depois recebi uma carta. “Laura” havia mandado, dizendo o quanto lamentava o ocorrido e pedindo um reencontro, o endereço havia achado em meu porta-luvas, em uma fatura qualquer de loja. Dizia que não conseguia esquecer nosso beijo e que queria devolver o carro. Eu acreditei.
Recebi uma segunda carta três dias depois com local, data e hora, mas desta vez a carta vinha com uma foto. A tal Laura que eu amei estava sorrindo como eu lembrava e vestia um vestido de flores grandes...seu ombro esquerdo estava a mostra por descuido ou por saber que exatamente assim estaria me deixando louca de saudades...Me arrumei, vesti uma blusa daquelas com o decote bem bonito e passei um batom, arrumando meus lábios para ela.
Lembro agora com um leve sorriso no canto da boca a demora para escolher a calça que coubesse melhor. Não sei por que, mas não pensei em momento algum em não ir ao seu encontro. Tratava-se de uma linda menina, ladra e desconhecida... Encantadora demais para mim, uma mulher já aos trinta, que se contêm em viver só, longe de tudo que ultrapassasse canetas, vinhos, papéis, e um gato, claro. Gatos são sinônimos de independência e solidão (boa).
Eu não terminaria a história agora, com o nosso encontro...
-Oi, tudo bom?
-Tudo... tem visto Elisa do terceiro andar?
-Elisa se casou e foi morar onde coubessem seus sonhos
-Mas que sonhos aquela mulher ainda tinha?
-De viver talvez...
Ou
-Oi, tudo parado por aqui né? ... Cadê aquela Elisa?
-Elisa?
-É, a do 302, que foi assaltada duas vezes?
-Ah, aquela tonta que foi se encontrar com a própria assaltante?(risos) deve agora estar bêbada...ou indo ficar bêbada para esquecer (mais risos)
Tem gente que fala que muito do que vivo, só serve para escrever, na verdade minha escrita se resume a estrume, não encontro muito sentido, lógica ou beleza em nenhuma dessas palavras pejorativas, as vezes fedem. O que vivo serve para vida. O que escrevo também... Mas para a minha. Não posso nem quero escrever para ninguém...
Fui encontrar Laura ou qualquer outro nome que comportasse aquelas coxas lindas e aquele ombro nu. Fui e iria ainda umas três ou quatro vezes. Escrevi um pouco antes e não bebi sequer uma gota de álcool.
Esperei no ponto uns quinze minutos e fui para...o farol...
Estranho não passaria nem perto do que senti minutos antes da menina chegar, sim, ela chegou...estava exatamente linda e andava apressada. Ajudei caminhando também ao seu encontro e a recebi com uma parada brusca já próximo a sua boca. Ela falou muitas palavras soltas, daquelas do tipo...desculpa, saudades, mundo, pai morto, e mais desculpas... eu aceitei cada uma e não demorei a soltar umas também.
- Você está linda...seu nome é Laura?
-Sim...Laura Cardoso.
Fomos ao carro e tirei com muita pressa seu vestido vermelho, soltei seu cabelo e a toquei, beijei todo seu corpo e ela deixou. Minha calça, saiu quase que ao mesmo tempo que a blusa e ela teve todo o cuidado para colocar as peças em baixo de minha cabeça, como um travesseiro no banco de trás para então se deitar em mim e dançar em um ritmo que inventou. Me beijou os seios, e desceu com a língua até meu sexo, ficando um tempo por lá, e parecia se esbaldar como criança em sorvete.
Agarrei o seu cabelo liso e claro e mordi meu lábio de baixo, tentando suportar tanto prazer. Trouxe-a de volta para meus seios e então a senti com os dedos, era quente, muito molhada e apertada. Fiz ela se ajoelhar em volta de meu colo e assim a beijava o sexo e a entrava com dois dedos continuamente enquanto ela arranhava o teto do carro. Trocamos poucas palavras e muitos olhares, cada vez mais fundos. Ficando muito tempo ali.
-Eu sabia que você ia voltar Laura...
Deitamos um pouco, ela em cima de mim.
-Eu gostei de você desde o primeiro dia. Mas não achei que se interessasse por meninas.
-Ah... (ri um pouco) – Adooooro meninas!
Voltamos para minha casa de carro, e ela dormiu comigo por três meses. Depois sumiu ao ir comprar os pães do jantar. Foi a pé e deixou uma carta (no carro). Ela e essas cartas...
“Elisa, não voltarei... mas não levo nada seu além do dinheiro dos pães, pagarei uma passagem e depois me viro. Sou casada e menti muito para você, mas te amo e meu nome é Laura. Não me espere, por favor. Fique bem”
Acabei indo morar com uma mulher um ano depois, trabalhávamos juntas em um museu e começamos um relacionamento estável, bom e... Verdadeiro.
Laura mandou umas sete cartas ainda, mas como me mudei, peguei todas as cartas de uma só vez, em um verão que fomos a barra. Minha mulher riu um pouco da história e não assumiu estar com ciúmes. Eu ficaria...Não parei de pensar até hoje na menina.
Certa vez assistindo TV a vi...
Ela estava de roxo, ao lado de um moreno alto e musculoso em uma daquelas festas de casamento de gente importante. Seu nome era Michelle Boaventura (apareceu em baixo da TV, como uma legenda sabe?) e pelo visto era bem conhecida em São Paulo. Peguei um cigarro, o último da carteira, posicionei meu cinzeiro onde desse para o admirar.
Procurei sem olhar o isqueiro no sofá ao meu lado
Acendi o cigarro e puxei toda a fumaça que consegui
Mudei de canal e soltei tudo de uma vez só...Fui ver se roubava uma torta de chocolate da geladeira, minha mulher deveria estar dormindo uma hora destas.
...
ResponderExcluirfoi a melhor coisa que li esses
dias.